Correria o longínquo ano de 1951, era eu aluno do velho e saudoso liceu D.Manuel II (antigo Rodrigues de Freitas e que hoje acho já ter recuperado o seu velho nome original), situado mesmo ali ao lado da velha Igreja de Cedofeita, no Largo do Priorado, aqui no Porto.
Muitos foram os professores que deixaram marcas indeléveis na minha memória e, sem dúvida, na minha personalidade e dos quais faço tenção de, com a justiça da lembrança e o pouco merecimento que possam ter as palavras com que o faço, aqui procurarei referir, um por um, a todos ou, se tal não for possível, àqueles dos quais me recordar melhor. Será o meu modesto tributo de agradecimento e homenagem a quantos, no dia-a-dia do seu inestimável labor, terão contribuído para que ali se formassem alguns jóvens que, mais tarde e alguns anos volvidos, se revelaram a seu modo e nos respectivos misteres, verdadeiramente notáveis.
Ocupar-me-ei hoje, no entanto, de um professor que tive no segundo ciclo os antigos 3º, 4º e 5º anos do liceu e que bem poucas saudades terá deixado aos que tiveram a sorte de o ter como professor: - homem sabedor e culto, é certo, pelo que não poderei,a aqui, deixar de lhe reconhecer o mérito, tinha, a meu ver, um outro extenso corolário de defeitos que desde logo ofuscariam aqueles que antes referi. Era vaidoso, pedante e prepotente, de falas mansas, sempre bem penteado e elegantemente trajando a sua imaculada bata branca de cientista que, naturalmente, bem gostaria de ser mas que não era, de facto, antes sendo o que o povo costuma dizer, um homem que mordia pela calada ou que apunhalava pelas costas com sádico prazer!
Era director de ciclo, lecionava ciências naturais, botânica e zoologia, se não erro, e vagueava, como sinistra figura que, só de vê-lo, nos fazia suster a respiração, pelos largos corredores do magnífico liceu, sempre pendurado na sua boquilha comprida, de osso ou marfim, e na qual trazia, sempre aceso e fumegando,um eterno cigarro que, por artes mágicas fazia desaparecer mal ocupava o seu lugar nas enormes salas-museus onde as suas aulas eram dadas.
Na altura das chamadas, como que se deleitava em folhear a caderneta, voltando uma a uma as folhas de cada aluno, ora atrás ora à frente, e assim, conscientemente e com um sorriso maldoso, de vez em quando relanceando um vago e circunspecto olhar sobre a turma então emersa no mais profundo silêncio e desse modo nos fazendo penar pela incerteza da escolha que faria!
Escolhido o sacrificado desse dia, lá ia o penitente para o suplício de se ver confrontado com estranhíssimas perguntas, talvez dirigidas mais ao intelecto do que a propósito do bichinho, planta ou osso que era colocado na sua frente. A cada resposta errada, que o mestre não corrigia, apenas o sorriso se lhe acentuava mais num antecipado gozo da nota que lhe iria dar: - negativa certamente e quando, abaixo do 9, na escala de 0 a 20, então usada, muitas vezes eram o 4 o 5 ou o 6, nunca hesitando na sua aplicação crua e dura!
E foi assim que, com alguma culpa minha não o negarei aqui mas com muito pouca benevolência e fraca atitude pedagógica da sua parte, não hesitou em dar-me no final do segundo período que, como é sabido, antecedia as férias da Páscoa e do folar, dois 6, notas essas que me fariam seguramente perder o ano e que levaram a que meus pais, com enorme sacrifício da sua parte, já que as nossas finanças não eram nada famosas e meu pai, como médico, se esquecia muitas vezes das contas dos doentes talvez porque pensar que a eles já lhes bastaria o padecimento da doença para serem ainda massacrados com as exorbitantes contas que os grandes especialistas do momento - na sua maior parte professores catedráticos e vivendo em luxuosíssimas mansões - escandalosamente, cobravam nesta cidade burguesa e de papalvos, onde só o que era caro é que era bom! - , e assim comercializando, inequívocamente, algo que nunca poderia ser objecto de comércio: - a saúde e vida humanas!
Mas, voltando à narrativa, recordo que, ao ter a minha mãe tomado a decisão de me tirar do liceu e me matricular no colégio Brotero, na Foz, relativamente perto da casa onde morava e ao ter comunicado o facto ao dito professor, director de cliclo, que, com toda a naturalidade recebeu a notícia que lhe era dada, eu, até aí tímido rapazinho de 14 anos, não me contive que lhe não dissesse: - e vou passar o ano, senhor doutor... ao que ele no mais escarninho dos seus habituais sorrisos, me respondeu: - claro, sr. Moreno, claro!... . usando aquele seu hábito de tratar por senhor todos os alunos, mesmo aqueles, pequenitos ainda e a quem não lecionava.
Frequentei o colégio no terceiro e último período e apresentei-me a exame no liceu que antes deixara. Ele não foi um dos professores que me examinou. Outro, de que me não recordo o nome, tê-lo-á sido, mas concluí o ano com média geral de 13 valores o que fiz questão de comunicar pessoalmente ao cínico mestre o qual, ao ver-me e particularmente ao ouvir-me, teve o que eu pressenti ter sido um pequeno rebate de consciência o que o tornou, naquele momento, de notório embaraço que sofreu, talvez um pouco mais humano...
Já terá morrido certamente. Paz à sua alma!...
Ao ler hoje no meu Portugal Diário da IOL a notícia cujo excerto aqui reproduzo e segue:
Os incêndios no estado da Califórnia continuam longe de estarem controlados. As chamas avançam e estão já muito perto dos subúrbios de Los Angeles. Segundo escreve a BBC Brasil, temendo o pior, as autoridades ordenaram este sábado mesmo a evacuação de 10 mil moradores de algumas áreas. Perante ventos que sopram a mais de 100 km/h, Arnold Schwarzenegger, governador da Califórnia, declarou o estado de emergência, na passada sexta-feira. Até ao momento já foram destruídas mais de cem casas e, neste momento, há mais de mil habitações no caminho dos incêndios. ....!
- não pude deixar de recordar a forma acintosa como ele, na campanha para as últimas presidenciais, achincalhou Obama em favor do clã Bush a que pertence e sem o qual nunca teria deixado de ser o palhaço das forças e dos músculos um dia importado da Áustria onde não arranjava trabalho como os americanos papalvos, como sempre, lhe arranjaram!
Não quero mal, longe de mil tal ideia!, a um homem que nem sequer conheço e que, em boa verdade, acho que detestaria conhecer em pessoa, tão retorcido e mal formado deverá ser o seu carácter interior pois sempre ganhou dinheiro e levou uma vida de ficção doentia (mas pelos vistos lucrativa!) a matar, destruir e fazer heroicamente explodir coisas e pessoas e que, pelo que hoje faz, e aceitou continuar fazendo, não deve ter uma massa cerebral maior do que a de um símples passarinho - e dos maus, dos que bicam a mão de quem lhes dá o paínço e a água que vão bebendo! isto porque, segundo rezam as crónicas, como governador do Estado da Califórrnia, e bem ao exemplo dos irmãos Bush, também ele nunca terá comutado uma pena de morte talvez porque naquele monte de músculos que lhe encha o peito mais não haja do que uns pedaços de ossos e de carne estragada em lugar de alma ou coração...
É assim a America do século XXI. São assim muitos dos americanos de hoje e se julgam brancos da mais pura casta mas que, sendo bem negros por dentro, roubam os bancos, delapidam a economia, ostentam e esbanjam fortunas de milhões (tal como os recém-aparecidos milionários russos de quem antes nunca ninguém ouvira sequer falar ou suspeitava que existissem!) e se esquecem dos milhões que passam fome, não se lembrando também de nunca terem sido donos do território que ocupam, como hoje tanto se arvoram, já que, na sua esmagadora maioria, foram emigrantes, condenados e deportados, oriundos das mais variadas raças e etnias, os que formaram os States de hoje e, pela calada da noite, covardemente ainda se cobrem de mantos brancos encimados com ridículos e odiosos capuzes de bico já que os verdadeiros donos da América, os índios Cayenes, Apaches, Sioux, Comanches e outros, esses, os escorraçaram para as reservas onde heroicamente os aprisionaram e mantiveram até à sua quase extinção!...
Por isso e outras razões de carácter muito íntimo e pessoal sempre que leio algo que se relacione com os Estados Unidos da América, peço a Deus que ilumine o presidente Obama e os homens de carácter que o irão acompanhar, já que os Capones e outros mafiosos desta era, pouco a pouco, se foram encarregando de desmistificar a lenda que alguns inteligentes conseguiram exportar de uma América cheia de Cadillacs e de sonhos e que hoje mais não é do que um país à beira de um abismo económico, social e moral do qual já Steinbeck falava e donde só a pulso e com muito esforço e valor, qual Fenix a renascer das cinzas, conseguirá sair.
Agradeçamos ao Bush e ao Schwarzenegger,e aos muitos outros que pensam como eles, que com eles são parecidos e que ainda por lá pululam, o estado em que o maior País do mundo hoje está e que o presidente Obama tenha a sabedoria de os fazer sair das suas tocas e de os exibir em público para que as pessoas de bem e todo o mundo fiquem a conhecer os seus rostos e quem eles são!
Que Deus ajude Obama e os que com ele irão lutar por uma América digna dos que se bateram em Okinawa e desembarcaram na Normandia para salvação da Europa esmagada pelo nazismo hitleriano e que as chamas rapidamente se extingam no martirizado estado californiano são os meus mais ardentes e sinceros votos...
Amen!
O que, sem maldade, me fez rir:
- Como habitualmente, findas as aulas, regressava a casa no eléctrico 17 que apanhava junto ao Liceu e me iria deixar, finda a minha viagem, na Senhora da Luz, na Foz, ao fundo da então chamada Rua do Gama que diariamente subia para chegar a casa.
O eléctrico, passada que era a Fonte da Moura e na longa recta que se estendia à sua frente dali até ao Castelo do Queijo, já na Foz, lançava-se em grande velocidade que, não raro, todos os guarda-freios aproveitavam, se calhar não só para fazerem o gosto ao dedo como também para recuperarem de alguns atrazos que porventura tivessem tido no seu, já então complexo, percurso urbano.
E foi precisamente na Fonte da Moura que aquele homem velhinho, de cabelo e fino bigode todo branco, tolhido e movendo-se com imensa dificuldade entrou, pelo que, eu e um colega, o ajudámos a subir para a plataforma traseira do carro eléctrico e daí para o pequeno degrau da porta de correr, sempre aberta, e que dava para o interior do carro.
Depois de, cortezmente, nos ter agradecido a gentileza que com ele tiveramos, sorrindo, o velhinho, rosadinho, elegantemente vestido e muito bem barbeado, preparava-se para caminhar ao longo da coxia central, por entre os bancos, em busca de um lugar na frente, dos muitos que havia vagos, isto quando o eléctrico já ia lançado a toda a velocidade como era hábito e acima referi.
Porém... azar dos azares!
Algo de inesperado fez com que o guarda-freio tivesse de fazer uma daquelas travagens a fundo pelo que tudo, mesmo quem ia sentado, foi projectado para a frente. E o velhinho, que teria acabado de dar o seu primeiro passo pela coxia em busca do seu lugar á vante, não se conseguindo segurar, começou a correr pelo estreito corredor só parando junto das portas da frente, estas sempre fechadas e que separavam a cabina dos passageiros da plataforma onde ia o guarda-freio, onde se agarrou pelo que conseguiu manter-se de pé.
Recordo ainda hoje o olhar surpreendido e circunspecto com que, chegado ao fim do corredor, ele olhou em redor e o seu olhar se fixou em nós que, inocentemente, ríamos da situação criada. E ele, espelhando no rosto um sereno e são sentido de grande humor, ofegante e ainda mal refeito da longa corrida que acabara de dar, comentou:
- Há muitos anos que não corria tanto!...
E não houve naquele eléctrico quem não se tivesse rido, como nós, mas com um riso de respeito, quase de ternura, por aquele homem, pequenino, frágil e velho, naturalmente simpático e alegre e a quem a vida deveria ter ensinado a aceitar, sorrindo, toda a qualquer adversidade...
Agora o que, sentidamente, me fez chorar:
- Noutro dia de inverno, corria o ano de 1969, o eléctrico dezassete parou no Castelo do Queijo onde já muitos eram então os eléctricos parados e os, ainda poucos, automóveis.
À nossa frente um mundo de gente envolvida em trajes negros, as mulheres com chailes sobre a cabeça, chorando e gritando desesperadas,aglomeravam-se na estrada junto ao mar e olhando para ele que mantinha ainda a forte ondulação da tempestade horrível que se verificara na noite aterior e que provocara o naufrágio de muitas traineiras de Matosinhos matando dezenas de heroicos pescadores,os destemidos lobos do mar e de quem tão poucos se lembram quando, à mesa, saboreiam um bom peixe fresco e sabendo a mar...
Curioso, com os meus treze anos, corri para ver o que se passava mas que o meu coração adivinhara já! E, com efeito, ali, quase junto à praia, entre o Castelo e o enorme paredão do porto de Leixões, já em Matosinhos, a ondulação, ainda forte, mostrava, a espaços, as dezenas de corpos que o mar agora devolvia à terra e que os respectivos coletes, que tinham envergados, mantinham e flutuar, aqui e além, as vagas ora os descobrimdo ora os tapando novamente, mas sempre os aprisionando no seu seio e sem deixar que ninguém deles se pudesse aproximar.
Silenciosamente, no meio daquele mar de gente de negro vestida e que nunca antes vira, senti que o ardor quente das lágrimas começavam a cair dos meus olhos e me escorriam pela face onde os esparsos pelos de uma insipiente barba começavam já a surgir aqui e ali... Não saberei dizer quanto tempo ali permaneci, só me recordo de ter chorado lágrimas de alma e, em chegado a casa, me ter refugiado no meu quarto onde permaneci sem nada fazer, apenas pensando amargurado, até à hora do jantar quando minha mãe me chamou porque, entretanto, meu pai já chegara do seu consultório depois de ter tratado e dado a esperança e a saúde que só ele sabia dar á sempre crescente infinidade de pacientes que o procuravam na Caixa de Previdência onde dava consultas das seis às sete mas aonde chegava sempre antes da hora e de onde saía sempre passando das nove...
Imaginem o que me veio à lembrança, pela calada da noite passada, quando, em supremo esforço pelo frio que havia no meu quarto, depois de me ter levantado para beber um copo de chá amornado no micro-ondas, tentava, regressado à cama, conciliar desesperadamente o sono que, teimosamente, permanecia afastado e sem dar mostras de querer aproximar-se de mim como, felizmente e por fim, veio a acontecer aí uma hora depois!
É que me lembrei-me de uma partida que, em tempos que já lá vão, preguei a um grupo de uns seis ou sete americanos que, numa cálida noite de verão lisboeta, pelas dez, dez e meia da noite, deambulavam pelo Largo do Carmo, junto do Comando-Geral da GNR, onde eu então prestava serviço, e foram naturalmente atraídos pelos belíssimos acordes da Banda da Guarda que tocava no interior dos claustros.
Havia nessa noite um concerto de gala dado pela Banda nas ruínas do Carmo, artísticamente iluminadas para o evento e para o qual haviam sido convidadas altíssimas individualidades nacionais e estrangeiras, alguns Ministros e Embaixadores e outros altos dignitários do Corpo Diplomático. Recordo ainda que, fazendo tenção de, nessa noite, rumar ao Estoril, em visita a uns primos meus que havia já alguns tempos não visitava, foi com surpresa e grande indignação que recebi a nomeação de última hora, feita pelo então Chefe do Estado-Maior ao ser designado, juntamente com outro camarada meu, como oficial de protocolo e destinado, portanto, a receber as Excelências que se dignassem aceder ao convite feito, o que correspondia, exactamente, às funções então exercidas pelos arrumadores dos cinemas e teatros da capital que levavam os espectadores aos respectivos lugares a troco de alguns magros trocos, para eles sempre bem-vindos.
Assim, depois de conduzir aos respectivos lugares algumas Excelências, entre as quais recordo os Ministros do Interior, de Estado e dos Negócios Estrangeiros, além de alguns Embaixadores e outros altos dignatários de embaixadas acreditadas em Lisboa, eis que começa o concerto uma obra prima de execução, diga-se, pois a Banda da GNR mais não é do que uma verdadeira orquestra sinfónica e das melhores que existem no País e o local prestava-se enormemente para o efeito.
Havia, no entanto, muitos lugares ainda vagos quando uma das sentinelas de serviço no exterior me veio avisar de que um grupo de senhores estrangeiros se encontrava à porta dos claustros, deliciados pela música e pelo sortilégio do ambiente que se apresentava ante os seus olhos, perguntando se lhes seria permitida a entrada.
Descurando eventuais obrigações que contrariassem tal decisão, respondi-lhe que sim, que lhes franqueasse a entrada pelo que o grupo, em ligeiríssimo traje de passeio, de shorts e roupas leves das senhoras, - o que contrastava flagrantemente com os trajes de cerimónia com que os convidados estavam vestidos - e carregado de máquinas fotográficas irrompeu na minha direcção agradecendo efusivamente a minha atenção.
Daí ao cochichar de perguntas e ao ciciar de respostas da minha parte no muito mau ingles em que então me expressava, - e que ainda hoje não melhorou muito - foi um curtíssimo lapso de tempo sendo inúmeras as perguntas que logo me fizeram e que me deram a oportunidade de ficar a saber que dois deles eram professores universitários algures numa cidadezinha de um qualquer remoto estado americano.
E a pergunta fatal surgiu por fim: - porque é que estas ruínas tão lindas não têm tecto?
E a minha resposta logo veio, inspirada e com o sabor à vingança que a nomeação de que fora alvo me exigia: - Ai não sabem? É que os tectos tinham frescos lindíssimos de Miguel Ângelo e o Napoleão, aquando da terceira invasão que nos fez, roubou-os e levou-os para França!...
Depois dos Ohs! habituais de espanto imediatamente algumas notas foram rabiscadas nos pequeninos livros de apontamentos que traziam pelo que estou em crer que muitos americanos terão ficado a saber que o Miguel Angelo da romana Capela Sistina também pintou as abóbadas do Convento do Carmo e que o Napoleão as levou consigo para França para onde se retirou depois de escorraçado na batalha de Aljubarrota!...
Fora a minha vingança. E, acreditem ou não, adormeci sorrindo e, um tanto saloiamente satisfeito pelo sábio esclarecimento prestado à descendência do Tio Sam, contribuindo desta forma para o avanço da cultura universal e quiçá forjando os Bushes que por lá pululam...
Que tudo à nossa volta, e de um modo geral, está em declínio, demoronando, disso não tenho a menor dúvida. A dúvida que persiste no meu espírito, inquieto e simultâneamente ansioso, é a de como será e quando será?
É o planeta que vai esmorecendo e não tardará a menos que um milagre colectivo de consciencialização universal venha a ser encontrado não tardará, dizia, a extinguir-se, apagando-se, queira Deus que não apocalípticamente mas sim com lentidão, qual vela bruxuleante que, depois de ténues e ligeiros lampejos de uma estranha e final luminosidade, se acaba por fim, deixando no ar um estreito fio de fumo azulado e um forte odor a que já nos habituámos a chamar de cheiro a mortos!...
Sim, o planeta está a morrer e nós, alegremente, vamos continuando sem ver aquilo com que a evidência diariamente nos presenteia e os estranhíssimos e hoje já recorrentes fenómenos naturais no-lo vão paulatinamente demonstrando: - degelo ártico, aumento e deslocação dos ciclones tropicais, terríveis terramotos, tsunamis devastadores, o terrível buraco do ozono, o aumento gradual da temperatura e tantos, tantos mais sinais que fastidioso se tornaria, quando não mesmo redundante, o vir aqui e agora enumerá-los.
O ser humano está, como é natural e se previa, em constante evolução, só que e infelizmente prevalecendo em caminhar no sentido contrário ao que seria de supor ser o seu natural destino.
Fazem-se intrigas políticas e guerras, proliferam os genocidas e os genocídios, aumenta o número dos ricos e dos poderosos que os criam e fomentam e, em paralelo e num crescendo já sem históricos precedentes, assustadoramente cresce o número dos que, impotentes, vão empobrecendo e se deixando espezinhar, sendo daqueles inocentes e inconscientes vítimas...
A corrupção está na ordem do dia. A comunicação social rejubila com ela porque, qual abutre como qualquer outro ser necrófago é dela que se vai alimentando e com ela prosperando.
A falsidade, a mentira, a sabujisse e a suja habilidade política, a par de intelectualíssimas e liminosíssimas ideias dos que febrilmente trepidam em redor dos escândalos ou das interpretações não interpretáveis com que as promovem e delas se alimentam, são hoje atributos considerados notáveis entre os amantes que tais artes cultivam e proliferam dia a dia, mais parecendo que o pseudo-social em que vivemos acorrentados cada vez mais dignifica quem os pratica ou por eles se deixa inocentemente envolver dando, depois, lugar a frutos seus que, lançados em terreno tão biológicamente favorável, logo vão germinando e proliferando a esmo e sem qualquer controlo ou antiodoto que os destruam!
Este pessimismo que neste momento me invade tem, como tudo o que, sendo factual e real , acontece nesta vida, uma causa e uma razão de ser. Neste momento, e para mim, essa causa e essa razão é o ser humano,no seu todo e, dentro desse mesmo todo, particularmente a mulher, no seu duplo conceito do belo anatómico e biológico e o aviltamento a que ambos, homem e mulher, desvairadamente vêm sendo submetidos renegando princípios éticos e morais que, deixando de ser mais os alicerces de uma sólida estrutura, em muito irão contribuir para que ela mesma caia um dia sem qualquer possibilidade de recuperação.
A história nos refere que o mesmo se terá passado já em Roma onde o Império se desmoronou em "bacanais imensos e insanos" e onde os timoratos incautos da verdade se deixavam matar ou, cansados de uma luta inglória, encontravam no suicídio o lenitivo supremo para os males de espírito que os atormentavam.
Mas, regressando à mulher, objecto deste meu pensamento de hoje - de facto, longe do misticismo que desde sempre a envolveu e dela faz o ser único que Deus, na Sua intervenção divina, deu como natural ao mundo para que este pudesse, de facto, crescer e multiplicar-se, a mulher e o seu corpo melhor dizendo, as formas deste, que desde sempre foram o néctar que atrairam as buliçosas e laboriosas abelhas que à sua volta acorreram, ávidas do seu pólen de vida e de promessa de criação essa mesma mulher e esse mesmo corpo são hoje mercantilizados e postos à venda num quem dá mais tão desonesto quanto torpe já que destroi o que de mais puro deveria existir e cultivar-se, o amor, para dar lugar ao sexo, prazer efémero e depravado e em que as rugas da vida não permitem conservar eternamente a juventude física, bem cedo as fazendo esfumar-se e voltar a transformar-se no nada em que nasceram e foram criadas.
E porque não reage a mulher a tal situação que tanto a avilta? Porque o não evita o homem que, verdadeiramente, seja digno de o ser? Porque tanto a um como a outro se opõem, como valores mais altos que logo se alevantam os efémeros bens materiais do hoje que, em sendo deste jeito cultivados, nunca nos permitirão assistir ao alvorecer do sereno e promissor amanhã que tão pródigamente os auto-eleitos que nos conduzem nesta sinuosa trilha da vida em que o próprio planeta parece finalmente estar a tomar parte com um certo sentido de revolta!
Será o fim? Admito-o quase como certo pois hoje os tiros já se sucedem na rua tão naturalmente como os pingos de chuva em dias de borrasca sem que se saiba quem atingem e se molhados ou feridos de morte eles ficam! Justiça é cada vez mais palavra vã assim como hombridade e carácter. Vivemos numa cultura de intriga e maledicência que, cedo ou tarde, nos acabará por consumir a menos que alguém, suficientemente lúcido e forte interrompa o ciclo e nos reconduza ao velho e ancestral caminho da fraternidade autêntica e não panfletária de grupelhos mais ou menos organizados que prontamente fugiriam ao menor grito de revolta de um Povo desnorteado, é certo, mas que acredito seja afinal quem mais ordena dentro de ti ó cidade...
E não sou comunista! Imaginem o que sentiria e diria se o fosse!
Tenho a maior consideração por McCain, pela sua coragem e veterania, pelo seu patriotismo e pelos seus conhecimentos vividos, mas vejo-o como enfermando dos vícios, exactamente os mesmos, que têm conduzido o Mundo ao estado em que se encontra e culminou com a mestria demencial de Bush!
Por outro lado, e ao pensar em Barak Obama para Presidente creio firmemente que, dentre ambos, só ele poderá trazer aos Estados Unidos e ao Mundo de hoje a nova mentalidade, o novo espírito , a nova alma, em tudo aberta à realidade humana de respeito e de verdade de que tanto carecemos e que não sirvam apenas, e só, os interesses de bastidores mesquinhos e exclusivamente económicos que nos têm conduzido ao pré-caos em que a aldeia global em que vivemos e hoje se encontra.
Sei que a mercadoria a que aqui me refiro se não pode acumular em eternos e incomensuráveis stocks e prateleiras e que, à força de necessitarem de mais espaco - tal como já hoje ocorre na construção urbana vão subindo até ao infinito para albergar granadas, bombas e munições de todo o tipo!
Sei que, por isso, e porque a indústria de armamento ocupa para cima de quinze ou mais milhões de pessoas trabalhadoras, representando mais de uma centena de milhões de pessoas! não só nos E.U.A., Inglaterra, França para não falar na Rússia que, tal como a Fenix parece estar a querer ressurgir das cinzas -, como na China, no Paquistão e na própria África (por ora ainda só sedenta de tal poder) as guerras, o seu mercado de excelência, vão eclodindo e por largo tempo ainda eclodirão um pouco por toda a parte!
Porém, parece-me ser imperiosamente necessário que uma voz tolerante e apaziguadora se eleve acima de todas as outras dos conhecidos mandaretes dos povos ignorantes, oprimidos ou simplesmente desinteressados e que uma por uma as vão calando, pelo exemplo e pelo seu querer férreo, representante de um outro tipo de poder até hoje ainda não conhecido e posto em prática mas em que acredito e creio Obama seja capaz de possuir e executar.
Não sou americano, por isso não voto.
Mas posso e, como cidadão do mundo, sinto que devo, dar daqui o meu apoio ao candidato Barak Obama em quem deposito o que julgo serem as mais fundamentadas esperanças de quantos pretendem um mundo melhor para os seus filhos e netos...
Viva, pois, Barak Obama a quem vaticino a maior vitória, não só nas urnas, mas sim nas ideias que professa e que tão sabiamente soube transmitir ao Mundo!
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