Sábado, 7 de Novembro de 2009
Não sei se tenho jeito para escrever o que quer que seja isto a avaliar pela quase total ausência de comentários em quanto vou escrevendo, ou escrevinhando neste meu blog - (não é falsa modéstia, é mesmo o que penso e sinto) mas garanto que o que aqui vou debitando o não faço como uma torneira que, em sendo aberta, logo deita água a menos que o sistema esteja avariado ou a fonte haja secado mas sim pondo no que escrevo a alma, o coração, o engenho e a arte, se bem que reconhecendo que, em quanto aos dois últimos se refere, estes me vão faltando, como, aliás, sempre acontece a quem nunca os teve, mesmo à partida, ou, gradualmente, os vai perdendo.
Se bem que sentindo particulares responsabilidades neste campo, - pois não quisera nunca ser desmerecedor do incomensurável mérito do avô paterno que tive, a quem, como quase sempre acontece, tão pouca justiça fizeram em vida (e tantos foram os que, com ela, muito lucraram!) e de quem, algumas vezes se tem falado depois da morte não me atrevo, sequer, a quaisquer comparações.
Por isso me proponho hoje contar-vos uma simples mas curiosa história, verdadeira, tanto quanto sei, mas da qual, e desde já, me comprometo a não revelar aqui os nomes.
Trata-se da quase incrível odisseia de um jovem médico e oficial da Marinha de Guerra Portuguesas por terras e mares do Norte de Moçambique corriam os anos dos finais do século XIX havendo, por isso, sinais, ainda que esporádicos, da guerra que então aí se travava.
Prestando serviço a bordo de um navio de guerra, então em missão nas costas do Norte de Moçambique, o jovem oficial e médico, aproveitando uma breve paragem da corveta em que seguia para reabastecimento de água e alguns víveres, designadamente fruta, algures ao largo de uma das múltiplas praias moçambicanas, pediu licença ao comandante do seu barco para acompanhar a terra os marinheiros que, em botes, fariam tais carregamentos, licença essa que lhe foi concedida pelo que embarcou num deles, rumando a terra onde cedo se afastou do grupo que procedia aos abastecimentos, totalmente entusiasmado por quanto, de fauna, flora e paisagem, ante os seus olhos tinha.
E foi assim que, desligado do grupo e sem que de tal se houvesse dado conta, este e os respectivos botes, regressaram ao navio que logo de aprestou a partir sem cuidar de saber se todos quantos haviam desembarcado haviam, de facto, regressado.
Já com o navio em marcha, eis que chega a notícia de que o médico, afinal, não tinha regressado a bordo pelo que necessário se tornava que fosse alguém à sua procura uma vez que, na praia, não era visto e dele se não vislumbravam quaisquer sinais. Foi, por isso, determinado que um pequeno grupo armado voltasse a terra e aí tentasse descobrir o paradeiro do jovem oficial o qual, após porfiadas buscas, foi finalmente encontrado, armado apenas com o revólver que à cinta tinha, empoleirado numa árvore, das raras que haveria no local, tendo a seus pés, esperando pacientemente que o estranho mas apetitoso fruto acabasse por cair... um indolente mas não menos faminto grupo de quatro leões
os quais, só depois de afugentados a tiro pelo grupo de resgate, terão permitido o regresso em segurança do jovem oficial ao seu navio.
Não conheci este oficial médico da Marinha mas recordo-me de que, por diversas vezes, este episódio foi relembrado em minha casa, era eu ainda criança...