Catástrofes, como a que hoje, ao folhear uma revista, recordei por haver ensombrado o mundo no Haiti, fazem-me pensar em como é realmente efémera a existência humana e quão vazia e sem qualquer sentido ela deverá ser para os que não foram bafejados pela sorte de crerem verdadeiramente no Deus que lhes dará nova vida para além desta e da morte que para todos nós lhe sobrevirá um dia!
Com efeito, assistimos a um constante desfilar de notícias, de narrativas e, sobretudo, de números que, quanto a mim, longe de nos sensibilizarem e verdadeiramente nos mobilizarem já para a real dimensão do acontecido, nos transmitem uma estranha sensação de vácuo emocional e no qual vidas humanas assumem apenas uma dimensão estatística, de números e de nada mais.
Cem mil mortos ou duzentos mil passam a ser, para a generalidade de quem ouve ou lê, a mesmíssima coisa, mas a eles se agarram, com a avidez mórbida e própria dos abutres no deserto das emoções e dos sentimentos, os media e os seus fautores, lutando desesperadamente por serem os primeiros, já que não poderão ser os únicos, a “dar as últimas”… E, no rescaldo da tragédia, que denodadamente prolongam, exaurindo-lhes o sangue que ainda terão deixado por verter, vão surgindo outras notícias como a de “duas vidas retiradas dos escombros” ou duma “sexagenária encontrada viva após seis dias” de soterrada!
Poderei estar errado, muito errado até – admito-o – mas revolta-me o saber e ver que catástrofes como esta que ocorreu no Haiti possam mobilizar tão intensa e rapidamente tão vastos meios de socorro internacionais e os media do mundo inteiro e outras que, quotidiana e anonimamente, vão ocorrendo igualmente em todo o mundo também, pela sua pequeníssima dimensão – pelo que não constituem sequer notícia! – não despertem na mesma comunidade internacional as mesmas reacções e a mesma pronta capacidade de intervenção de que só nestas ocasiões parece ser capaz de dar provas.
Realmente, os milhões de “desabrigados” (não confundir com desalojados, o que seria quase um despautério!... ) os milhões de “desempregados”, os milhões de “doentes”, os milhões de “carentes de toda a ordem”, onde tem destacada primazia a “fome”, tudo chagas sociais imensas que parecem infectar este belo mundo de alguns, brilhantes oradores políticos que despudoradamente vão mentindo aos povos que os sustentam, de bem sucedidos magnates da luxúria, os quais se designam hoje por “empresários” e “gestores”, de celebridades de coisa nenhuma – devo referir que, nestes campos, sempre haverá excepções a a justificar a regra – nada disto parece incomodar a humanidade e os velozes e omnipresentes meios de comunicação social (como hoje se designam) que, perante tais factos, permanecem indolentemente indiferentes, aceitando-os como fatalmente imutáveis e fazendo irremediavelmente parte da já tão moralmente degradada condição humana… a mesma que, afinal, lhes vai alimentando os insaciáveis bolsos…
Daí a interrogação que me ponho: - qual a diferença entre o que aconteceu no Haiti e o que diariamente ocorre na Somália, no Senegal, na Índia, no Paquistão, no Afeganistão, na Palestina e em tantos, tantos outros pontos do globo e que, para além dos atentados suicidas e dos mais recentes actos de pirataria marítima, tão pouco parecem incomodar os influentes senhores do mundo em que, não fora a crença que me anima e pulsa no meu peito, bem pouca ou nenhuma vontade teria de viver!
É que a diferença será somente a da oportunidade no mercado das notícias que, relativamente a umas “renderá” e a outras não… Só isso.
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