Senhor Embaixador:
Com o desconto que sempre se deve dar aos leigos, ou melhor, àqueles que, como eu, se atrevem a meter a foice em seara alheia, gostaria de tomar alguns minutos do seu precioso tempo pedindo-lhe para me acompanhar nesta simplista e talvez infeliz análise:
- Voltámo-nos para a Europa, esquecendo o mar, fonte perene e inesgotável das nossas maiores conquistas e afirmações no Mundo, isto a fazer fé no que dizem e me ensinaram, quando à nossa frente tínhamos a vasta Espanha, inimiga antiga e donde os ventos e os casamentos nem sempre foram os melhores, os Pirinéus, tão difíceis de transpor como até de imaginar, e essa bela França, onde V.Exa. hoje nos representa, mas de onde partiram os exércitos de Napoleão que, durante alguns anos, nos tentaram submeter e subjugar embora quando por aí andei, de tal me esquecesse tão bem me sabia o “bordeaux” no saudoso acolhimento do “Au Bon’Amour”, restaurante que então visitava com alguma frequência.
- Voltámo-nos para a Europa e com ela veio o “euro” que, durante meses foi objecto de intensíssima propagando pseudo técnica e toda ela laboriosamente preparada no sentido de nos demonstrar que, a adopção da nova moeda, em nada viria alterar a nossa vida.
- Muitos acreditaram. Eu não. E não porque, entre outras coisas, cedo verifiquei que, tendo agora como moeda corrente de menor valor o cêntimo (dois escudos aproximadamente) nunca mais conseguiria comprar o que quer que fosse que só valesse um escudo – e havia ainda tantas coisas a esse preço!
- Claro que poderia comprar duas coisas (entraria no supérfluo talvez mesmo no sumptuário o que qualquer economista condenaria, se não pelo valor, pelo menos pelo acto em si) ou então deixaria de comprar o que pretendia já que o “vendedor”não teria troco para me dar que não fosse em espécie!
- Paralelamente – e como hoje tanto jeito nos faria e, ao tempo, seria previsível – deixámos de poder desvalorizar a moeda e de poder, dessa forma, fazer face ás crises económicas que surgissem como, no passado, tantas vezes tínhamos já feito sempre que as importações excediam as exportações.
- Simultaneamente, com este nosso jeito de sobrevalorizar o que é estrangeiro, desatámos a comprar, a preços europeus, mediante as facilidades que a Banca, fugazmente, nos proporcionou – insistindo em nos emprestar o guarda-chuva para, como dizem os ingleses, no-lo tirar logo que começasse a chover… - e lamentavelmente nos esquecendo de que os nossos salários continuavam sendo os nacionais, portugueses de sempre… (não para todos, entenda-se).
E aqui terminaria o meu temerário raciocínio se não me restasse ainda uma pergunta, pergunta essa para a qual não fui capaz de encontrar resposta satisfatoriamente convincente: - será que ganhámos ou perdemos com o “euro”?
Que a saída dele seria hoje catastrófica, disso, porém, não tenho a menor dúvida. Só que me parece que continuamos a voar num ultra-leve tendo-nos esquecido do pára-quedas para o caso de termos um acidente e, quanto ao que a mim respeita, de levar mesmo comigo quem, na ocasião, me empurrasse…
Com os meus agradecimentos, lhe peço desculpa pelo tempo que lhe roubei com tanta asneira junta…
///
Este foi o texto que escrevi na sequência do post do Embaixador Seixas da Costa, que seguidamente transcrevo, e que ele fez o favor de colocar no seu blog como comentário:
"Há quatro anos, quando vivia no Brasil, fui convidado para fazer uma palestra na universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Antes do evento, foi-me oferecido um almoço, por responsáveis e professores. A certo passo da refeição, um docente canadiano, atirou-me, de chofre:
"- A vossa zona euro está a dar sinais de degradação. A Alemanha e a França começam a não conseguir cumprir os critérios de convergência. Quantos anos mais Portugal conseguirá resistir, antes de ser forçado a abandonar a moeda única?
"Confesso que fiquei aturdido. Até então, nunca ninguém me tinha colocado semelhante questão, que, à época, me parecia sem o menor sentido.
Recordo-me bem do que respondi:
"- O custo que poderá representar, para Portugal, a tomada de medidas que venham a revelar-se necessárias para se manter na zona euro será sempre muito inferior àquele que o país teria de suportar se acaso viesse a ter de sobreviver fora dessa mesma zona, de regresso a uma moeda nacional.
O mundo deu, entretanto, muitas voltas e a discussão sobre a nossa posição face à "eurozona" anda agora por aí. Mas continuo a acreditar piamente na resposta que então dei.""
Postado por Francisco Seixas da Costa in http://duas-ou-tres.blogspot.com
. Mais uma vez mão amiga me...
. Um tristíssimo exemplo de...
. A greve como arma polític...
. A crise, o Congresso do P...
. O jornalismo e a notícia ...
. Passos Coelho: A mentira ...
. Oásis
. Memórias