Com o intervalo que uma pequena intervenção cirúrgica me determinou, retomo hoje esta minha escrita, verdadeiro escape destas minhas válvulas já algo emperradas, com um apontamento que gostaria de dar a conhecer: - o deixar de fumar.
São os médicos que me parecem menos interessados na natural tendência de agradar ao paciente aqueles que mais me convencem.
Na realidade já foi assim quando prometi a mim mesmo – e disso fiz uma grande publicidade na qual muito poucos acreditavam – que o médico que, “desinteressadamente”, e não “insistentemente”, me desaconselhasse de fumar seria aquele a quem eu iria obedecer.
Assim, um belo dia, feitas as rotineiras e semestrais análises e exames de rotina na clínica de onde era habitual cliente e após a verificação de uma das radiografias ao tórax, o médico que me observava chamando-me para junto dele, apontou-me uma das radiografias que tinha no expositor-visionador, dizendo:
- Vê esta mancha no seu pulmão direito?
- Sim, doutor, vejo… e vejo que é grande! – respondi.
- Pois é – concluiu ele, retirando a película do “écran” que a iluminara e dizendo-me, como se me desse os bons dias ou me perguntasse se estava a chover:
- Tem um enfisema pulmonar. Ele não irá regredir, antes terá tendência em aumentar. Se quer viver mais alguns anos tem de deixar de fumar... – e a consulta continuou normalmente tendo concluído que, em tudo o mais, me encontrava bem.
Fiquei a pensar no assunto e, uma vez regressado ao escritório e depois de chamar o, ao tempo, meu amigo e chefe do serviço de pessoal, disse-lhe:
- Sei que você fuma. Se quiser continuar a matar-se, ofereço-lhe este meu maço de cigarros, de onde poucos fumei, pois a partir deste momento deixo de fumar…
Estupefacto, pois já não era aquela a primeira vez que abordávamos tal assunto, apressou-se a segurar no maço de cigarros que eu lhe estendia e foi dizendo:
- Muito bem… eu guardo-o. Mas quando o quiser de volta é só pedir… - respondeu sorrindo.
Aproveitámos a ocasião para tratar de um ou dois assuntos pendentes após o que ele se retirou para o seu gabinete, levando consigo o maço de cigarros que eu lhe dera.
Desde esse momento até hoje, e já lá vão mais de vinte e cinco anos, nunca mais toquei num cigarro.
E querem saber uma coisa? Não me custou. Acho mesmo que poderei dizer que me não custou absolutamente nada… De um senão me recordo apenas: - quando, no restaurante ou em casa, findo o jantar, costumava tomar o meu café, sentia falta do meu brinquedo: - o isqueiro que ia revolvendo entre os meus dedos ao mesmo tempo que conversava ou via a televisão ficando algo enervado por não saber... o que fazer com as mãos!...…
Drogas e consultas especiais para deixar de fumar? Não acredito nisso. Uma opinião quase desinteressada de quem confiemos – sem dever de obediência como tantas vezes aconteceu com meu pai que, sendo médico, para o meu subconsciente era suspeito! – uma pitadinha de teimosia e uns escassos gramas de força de vontade e já está: - “vade retrum “cigarrorum””!
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