Não negarei que demorei algum tempo – demasiado, talvez, para o Dr. Paulo Tacla – até chegar à conclusão de que devia comunicar ao General Spínola o contacto que havia tido, isto depois de ter descoberto que a minha pessoa lhe poderia ter sido indicada – facto que nunca confirmei - tempos antes, por inconfidência de minha tia que, juntamente com um grupo de senhoras, entre as quais figuraria a mulher do então Embaixador do Brasil em Lisboa, todas as semanas se reuniam para tomarem chá e jogarem “bridge”.
Com efeito, depois de muito pensar, a minha decisão afirmativa havia sido tomada e como tal a comuniquei ao Dr. Paulo Tacla a quem confirmei ir entrar em contacto com o General para a Guiné e tentar obter dele o que eu supunha fosse da sua parte como que um princípio de aquiescência não obstante o inúmero conjunto de interrogações que, a meu ver, o General nos iria colocar.
Assim se iniciou um complexo diálogo entre Brasília e o General Spínola e durante o qual – sempre passando pelo Dr. Paulo Tacla e por mim - foram sendo discutidas e assentes as condições que ambas as partes propunham para que o projectado convite pudesse vir a ser aceite.
Regressado ao Brasil com as poucas informações de que ainda podia dispor mas onde avultava a predisposição do General em aceitar o convite, ouvido que fosse o parecer afirmativo do Presidente do Conselho Marcelo Caetano do qual, segundo me disse telefonicamente, não prescindiria, poucos pormenores restavam já por acordar não obstante e para mim permanecesse ainda muito nebuloso, senão mesmo omisso, o que me parecia ser o principal e por cujo esclarecimento veementemente insistia: - qual a razão de ser de tal iniciativa e o porquê a sua efectivação naquele momento e não depois, quando o General já tivesse terminado a sua comissão de serviço na Guiné.
Alguns meses entretanto se passaram, durante os quais o assunto parecia mantido em “banho-maria”, quando um novo telefonema do Dr. Tacla me anunciava o seu regresso a Lisboa pelo que, uma vez mais e, como anteriormente, solicitava a minha presença no Hotel Ritz.
Aprazada a reunião onde tive a oportunidade de conhecer uma alta patente da Armada brasileira aí me foi dada a conhecer qual a verdadeira motivação e urgência do convite. Encontrava-se nesse momento em discussão, e já muito próximo da fase última de conclusão, um novo Acordo Luso-Brasileiro e o Governo pretendia ter a certeza de que tal Acordo – cujos termos, e como é óbvio, eu desconhecia - nunca poderia vir a ser invocado para favorecer ou por qualquer modo apadrinhar a nossa guerra em África com a qual o País do “Ipiranga” nunca concordara nem poderia concordar.
- É por esta razão – confidenciou-me o militar que desta vez comigo passeava no vasto salão do Ritz – que queremos ter lá o vosso General pois ”é nele e só nele em quem o nosso País confia” (sic).
Estas simples palavras, que logo transmiti ao General numa das suas, quase imediatas, deslocações à metrópole em muito me tranquilizaram pelo que foi com renovado interesse que continuei seguindo os acontecimentos e cuja narrativa concluirei no próximo post deste paupérrimo blog.
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