Sabe-se como é o clamoroso estado a que chegaram nos dias de hoje a economia e as finanças portuguesas, mas sabe-se também que o cinema nacional vai prestar finalmente o tributo de gratidão e de elementar justiça a esse “desconhecido” mas exemplar cidadão português que foi Aristides de Sousa Mendes que, desobedecendo a Salazar – no tempo em que este se via forçado a jogar com um pau de dois bicos para preservar a neutralidade portuguesa durante a II Guerra Mundial, o que alcançou muito embora se lhe reconheça o seu particular pendor pró-germânico – salvou da morte certa milhares e milhares de judeus a quem, em Bordéus, onde era então consul e à revelia das ordens que recebia de Lisboa, passou os milhares de vistos que garantiram outros tantos passaportes para a vida de milhares cidadãos que, de outra forma, estariam inexoravelmente condenados às camaras de gás de Aushwitz, Dachau ou Treblinka.
Sabido tudo isto e também que a casa onde Aristides Sousa Mendes nasceu, em Cabanas de Viriato, se encontra no mais completo estado de ruina não tendo, na conjuntura actual, o Estado português quaisquer possibilidades de proceder ao seu restauro – como seguramente seria a sua vontade – aqui se recorda ao governo israelita o seu dever moral de contribuir aqui para fazê-lo, saldando, assim, uma pequena parte da enorme dívida que tem e terá para com este modesto estado peninsular hoje na mó de baixo, como soi dizer-se, mas que em breve regressara à mó de cima e com isso recordando o que se deverá passar quando, sem poder ajudar, se necessita de ajuda!
Aristides de Sousa Mendes, o homem que bem poderia ter vivido uma vida calma e cheia de mordomias que o seu estatuto diplomático lhe conferia, preferiu viver privado do exercício da sua profissão de advogado e morrer na miséria porque a sua dignidade, honra e princípios morais assim lho impunham.
Assim, o mínimo que a justiça poderá fazer será honrar o seu nome e o dos seus e rabilitar aquela que foi a sua casa e serviu de abrigo a tantas famílias judaicas, restaurando-a e colocando-lhe uma lápida que recorde o seu nome como um dos que são verdadeiramente dignos de figurar entre os da mais fina estirpe dos portugueses mais ilustres.
Da modestia desta minha posição de mero escrevinhador de lembranças e de ideias aqui lhe presto desde já o preito da minha mais sentida homenagem.
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