Segunda-feira, 19 de Novembro de 2012

Corriam os anos de 1958 ou 59

 

Corriam os anos de 1958 ou 59 e abrira-se um concurso na Sacor (hoje Galp) administrada pelo todo poderoso Engenheiro Duarte do Amaral, pai do actual prof. universitário que não tenho o prazer de conhecer pessooalmente mas com cujas posições políticas, tantas têm elas sido!, nunca pude concordar.

A história é breve e conta-se rapidamente:

- Terminado o meu serviço de contrato no exército e pouco antes de ter sido chamado para a GNR, concorri a um lugar naquela Empresa pelo que fui a Lisboa, fiz as ridículas provas que, se bem me recordo, constavam de uma regra de très simples, do cálculo da capacidade de um depósito de combustível e de uma pequeníssima carta em francês a um concessionário da Empresa – esclareço que na altura falava e escrevia o francês tão bem como a minha própria língua! – pelo que terminei o concurso com a certeza absoluta de não ter errado uma única questão.

- Quis o acaso que, à saída, me encontrasse com um velho advogado amigo da família e pai de um amigo meu, que se mostrou admirado de me ver por ali pelo que me perguntou ao que vinha. Dada a resposta, esse amigo de meus pais, pegou-me por um braço e, em voz baixa, confidenciou-me de que não deveria esperar qualquer resultado favorável daquele concurso pois, tanto quando sabia, as vagas eram duas e já estavam há muito preenchidas pelo que o concurso fora uma mera formalidade e uma forma de iludir quem, como eu, ainda confiasse na pureza e nobreza das intenções dos homens.  

Descoroçoado, regressei ao Porto e, dias depois, era chamado para prestar serviço na GNR tendo, após o estágio, sido destacado para comandar a Secção da Guarda em Guimarães onde - só o vim a saber mais tarde - o Engº Duarte do Amaral possuía uma vasta e lindíssima quinta.

Entretanto e porque nunca ninguém se dignara, ao contrário do anunciado, comunicar-me o ressultado do concurso feito na Sacor e à revelia de meu pai, que a tal se opunha, decidi-me a escrever pessoalmente ao Engº Duarte do Amaral solicitando-lhe o favor de uma informação sobre o assunto. Julgo que foi passado cerca de um mês que recebi, como resposta, um simpático cartão da sua secretária que me informava haver sido incumbida pelo referido Engº de me informar de que fora excluído do concurso dadas as más provas prestadas, - o que era uma merra desculpa sem a mínima ponta de veracidad -, e que, dadas as fraquíssimas qualidades dessas provas, não poderia ser novamente admitido a outro concurso que eventualmente se viesse a abrir!

Era o incrível que acontecia e que tinha ante os meus olhos!...e escusado será dizer a revolta que senti perante o teor do que me era comunicado e a forma deselegantemente falsa como o fora.

Mas voltando a Guimarães e à GNR quis o destino que estivesse no gabinete do Presidente da Câmara quando o contínuo anunciou a presença do Engº Duarte do Amaral que pretendia falar com o Presidente. Como o assunto que estiveramos a tratar já tivesse terminado fiz menção de me retirar ao que ele se opôs dizendo que aproveitaria a oportunidade  e que teria o maior gosto em me apresentar pessoalmente ao referido Engº., pessoa grada na cidade e seu amigo pessoal, pelo que me pediu que ficasse e ao contínuo disse que mandasse entrar o visitante a quem me apresentou formalmente perante o seu ar de espanto pois havia ainda muito pouco tempo que eu havia sido ali colocado no comando, conhecia o meu antecessor, o Major Fernandes,  e não tiveramos ainda a oportunidade de nos conhecermos.

Trocadas as palavras da praxe e pouco depois, alegando motivos de serviço, pedi licença para me ausentar e despedi-me tanto do Presidente como do Engº que acabara de conhecer pessoalmente quando de há muito o conhecia não só de nome como principalmente pela forma de actuar.

Nem uma semana se havia passado sobre este nosso conhecimento quando recebi na Secção um requerimento do Engº Duarte do Amaral que me pedia ordenasse às minhas patrulhas um especial patrulhamento à sua propriedade. Recordo-me de no documento ter exarado um despacho que rezava mais ou menos isto: - “Constitui dever da GNR a protecção da propriedade pública e particular, tal como se consigna no artº ?? (não me recordo) do seu Decreto Orgânico, pelo que a propriedade em causa se encontra já protegida nos termos da lei não havendo quaisque razões especiais que nos levem a alterar as ordens e os percursos dos patrulhamentos normais e destacados para a área pelo que, em princípio, estas não deverão ser alteradas e o patrulhamento deverá ser efectuado da forma normal. Indefere-se, assim,o solicitado. - Todavia, caso o requerente pretenda uma vigilância policial especial e permanente deverá ser solicitado um serviço gratificado de uma patrulha, que, como tal, deverá ser pago nos termos das tabelas em vigor, e que será prestado diária e regularmente sempre que outros interesses inadiáveis do serviço público se lhe não oponham, devendo, nestes casos, as importâncias correspondentes aos períodos em falta, serem deduzidas na factura que mensalmente for apresentada.”

Exarado o despacho, chamei o sargento comandante do Posto e disse-lhe para preparar a máquina de escrever pois iria escrever um ofício ao Engº Duarte do Amaral que começava assim:

Encarrega-me o Senhor Comandante da Secção desta Guarda nesta cidade de, em rtesposta ao requerimento datado de (tantos de tal) de informar V.Exa. de que sobre o mesmo, exarou o seguinte despacho: - (e seguiu-se a transcrição do despacho acima citado). – A Bem dea Nação – a) Sebastião Sernache Charola, 2º sargento comandante do Posto-sede.”

A cara do sargento ao dactilografar o que eu lhe ordenara, valia um poema! No fim chegou mesmo a perguntar-me: - “O meu tenente vai querer mandar mesmo este ofício?...” – “Claro que sim – respondi.  Porque será que lho mandei escrever?”

Soube, mais tarde, que o EngºDuarte do Amaral terá perguntado ao Presidente da Câmara: “ – Quem é este tenente?...” . Ignoro a resposta que lhe foi dada. Só sei que depois, quando já em Lisboa e colocado no Comando-Geral quando acontecia cruzar-me com o Engº Duarte do Amaral no Chiado, o que aconteceu várias vezes, sempre este me cumprimentou cortezmente, tirando o chapéu ,ao que eu sempre respondi sorrindo e baixando a cabeça ambos conhecedores dos motivos “diplomáticos” por que o fazíamos…

Vem este “post” a propósito de ter visto ontem na Tv o seu filho vaticinar que. entre o 4º e o 9º mês de 2013,  o actual Governo seria substituido. A ver vamos.

publicado por Júlio Moreno às 03:06
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