É verdade! Estou certo de que Einstein me apoiaria na minha "teoria da relatividade" em função da idade.
Recordo-me bem de quão longos eram aqueles invernos, passados com frio, com escola, - onde ainda havia palmatória e se aprenderia mais! - com contas de dividir – enormes, assustadoras e que meu pai me passava muitas vezes antes de sair para ir ver um doente a uma qualquer aldeia da região onde era médico (em Vidago). Imaginem só o exemplo “2461903463875035 : 285173” isto sem máquinas de calcular! – aguardando ansiosamente as férias grandes de Julho, Agosto e Setembro parte das quais eram passadas em Espinho – onde alugávamos uma casa e onde se reuniam todos os primos e primas – na praia para onde íamos todas as manhãs.
A tarde era reservada a descanso e mais tarde, antes do jantar, a pequenos passeios pela então vila piscatória e onde o pregão único das varinas se ouvia pelas manhãs: - “Pescada viva!... Ó que rica pescada!...”.
Aos sábados, dada e enorme afluência à praia, fugíamos para a piscina da Granja onde nós, os mais pequenos, sofríamos invariávelmente a obrigatória tortura do mergulho dado pelos banheiros após o que, a água que nos ficava escorrendo pelo rosto, densa porque salina, nos dificultava enormemente a respiração!
Tanto a ida como a vinda eram feitas pela praia, em correrias à beira-mar onde a areia era mais dura e permitia andar com menos esforço, pelo que o almoço era devorado com a sofreguidão própria de quem se encontra terrívelmente cansado e faminto!
Os domingos, esses eram reservados para passeios de automóvel, no enorme carro do meu tio, (era um Dodge americano) advogado de sucesso no Porto e que todos os dias ia para o seu escritório só voltando pela tardinha, quase à noite.
Meu pai, invariávelmente regressava a Vidago passados os primeiros cinco ou seis dias de férias em Espinho, vindo depois buscar-nos findo que fosse o período de praia no seu pequeno e saudoso “Skoda” marron que me ensinou a guiar!
Mas as férias não se ficavam por aí.
O mês de Agosto e parte de Setembro eram passados em Vidago, em nossa casa, no meio do calor estival e do bulício de uma estância termal, ao tempo sempre cheia de aquistas (estava na moda), e onde o ping-pong, no velho Hotel Avenida, mesmo fronteiro a nossa casa e onde todas as noites se dansava no grande salão, o ténis, o golfe – com os seus campeonatos dirigidos pelo Mr. Douglas, inglês alto e simpático que recordo perfeitamente, sempre acompanhado da sua cadelinha “terrier” - e em que meu pai venceu por diversas vezes vários torneios.
Os barcos, o lago e as loucas correrias em que o meu primo Vasco me levava no quadro da sua bicicleta, completavam todo o nosso maravilhoso e hoje tão saudoso cenário!...
Depois... oh! depois seguiam-se as despedidas, o meu mundo ficava muito mais pequeno e vinha o outono e o Outubro e com ele o avizinhar do frio, das aulas, das geadas matinais ou da neve, das frieiras nas orelhas, das gripes e das febres colectivas que normalmente grassavam pela escola além das restantes doenças do catálogo que eu, por meu pai ter o consultório em casa, sempre ia apanhando por contágio.
Como passavam depressa aqueles meses de verão e de férias e como se alongavam aqueles meses de inverno e de escola!!... Que eternidade ia de um ano ao outro!...
Agora, a dias de fazer setenta e sete anos (se Deus permitir que lá chegue!), os verões e os invernos sucedem-se numa velocidade diria que vertiginosa e num movimento que sinto ser uniformemente acelerado... Há dias eram “cinquenta” e hoje vou a caminho dos “setenta e sete”!... Isto é como se o tempo passasse à velocidade da luz e, como contra-partida, recordo bem aquela primeira vez que andei de avião e em que, olhando a terra pela vigia do meu lado, esta me parecia parada sabendo eu que que nos deslocávamos a uma velocidade de 900 quilómetros por hora!....
Alguma vez pensamos “nisto” quando crianças ou adolescentes? Acho que nunca e que ninguém...
E é precisamente neste ponto que entra a “relatividade” que dei como título a este meu “post”... A relatividade aplicável à idade e ao tempo!...
Julgo que Einstein, lá onde estiver, esboçará um pequeno sorriso pela ignorância que demonstro mas que, bem lá no fundo, concordará comigo.
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