Corriam os longínquos anos de sessenta quando, encontrando-me no comando da Secção da GNR de Guimarães, recebi um telefonema do meu camarada de Viana do Castelo que me informava terem sido “passados” dólares falsos numa conhecida casa de câmbio de Valença e que os dois criminosos que o fizeram se fariam transportar num Volkswagen de cor castanha clara tendo seguidamente fugido em direcção ao Sul pelo que me solicitava a tomada das providências adequadas à tentativa da sua intercepção e detenção.
Perante o facto, imediatamente tomei as medidas possíveis e que desde logo se impunham – infelizmente sem êxito pois os meliantes, não obstante devessem ter pressa em se afastarem do local, também deveriam conhecer razoavelmente bem os terrenos que pisavam pelo que se deverão ter deslocado por estradas secundárias ou então ficado escondidos nalgum local previamente escolhido.
Assim, apressei-me a telefonar aos comandantes dos Postos das áreas por onde aqueles poderiam passar – o acontecido passara-se ainda não decorrera uma hora! - e mandado deslocar patrulhas para os itinerários e cruzamentos de vias de mais provável utilização pelos meliantes.
Até aqui e não obstante, como disse, a operação não tivesse resultado, nada de anormal deveria considerar-se já que se tratava de mais um dos inúmeros casos em que a GNR de então, por falta de meios, que nunca de vontade, e sem o recurso das modernas tecnologias que hoje se utilizam, falhava no cumprimento do que se propusera executar. O curioso e que motiva este meu “post” de hoje, vem a seguir:
- No final desse mês recebi, como habitualmente, o meu “soldo” que, além dos habituais descontos de cantina e outros, continha um de telefonemas não justificados e que, para os valores de então, constituiam um montante algo considerável! Surpreendido e indagando da razão de ser de tal desconto, vim a saber que as chamadas que fizera para os comandantes dos Postos da área por onde deveriam passar os criminosos dos dólares falsos haviam sido consideradas como não urgentes e desnecessárias pelo que seriam da minha exclusiva responsabilidade.
Indignado, não pude deixar de remeter ao Exmo. Comandante do Batalhão 4, no Porto, (com quem me dava bastante mal, diga-se) um ofício onde dizia mais ou menos o seguinte: -“Foi com a maior surpresa que verifiquei o desconto que me foi feito no caso dos telefonemas dos dólares falsos de Valencia. Tomei devida nota da interpretação dada ao facto por esse comando e informo que, para futuro, passarei a agir da forma seguinte:- endereçarei aos comandantes dos Postos visados um ofício informando que “no dia “x” deveria ter passado na ária das suas jurisdições um veículo com as características “Y” o qual deveria ter sido interceptado e detidos os respectivos ocupantes pelo facto de “Z”.
Devo acrescentar que nunca me foi comentado ou por qualquer outra forma referido qual o “impacto” que este meu ofício terá causado perante os responsáveis pelo acontecido nem nunca me foi reposta nos soldos que se seguiram a importância descontada e que, ao tempo, representava um valor considerável...
Assim se vivia na GNR, expedindo a correspondência interna em sobrescritos voltados do avesso, onde se apunha um carimbo com o símbolo da República utilizado na correspondência oficial, e as patrulhas (algumas de trinta e dois quilómetros) eram feitas a pé, cada soldado do seu lado da estrada (quando não por caminhos de montanha) e carregando, quando chovia, além das pesadas Mauser de 13,600 Kg., pesadíssimas capas de oleado, botas e polainas (que saiam sempre do quartel a brilhar - apanágio da GNR) e uma farda de cotim cinzento com dólman abotoado até ao pescoço onde se fechava como um cabeção de um padre!...
Havia realmente muito pouca semelhança com o que hoje se passa...
. Mais uma vez mão amiga me...
. Um tristíssimo exemplo de...
. A greve como arma polític...
. A crise, o Congresso do P...
. O jornalismo e a notícia ...
. Passos Coelho: A mentira ...
. Oásis
. Memórias