Sexta-feira, 15 de Fevereiro de 2013

Que Deus lhe conceda o perdão já que nunca terá sabido o que fazia...

 

Que a misericórdia divina lhe conceda agora a paz que nunca alcançou na vida terrena que viveu e em que fez muitos infelizes mas na qual a mais infeliz terá sido ela própria, vitima que foi de uma conjuntura pouco habitual nas pessoas mas que, quando as atinge, se costuma revelar fatal.

 

Sendo a mais nova de duas irmãs, filha segunda de um amantíssimo casal de primos direitos, por razões de doença e serena docilidade – que só bastante mais tarde se transformou! – e talvez protegida pelo sentimento de culpa que a consaguinidade tão próxima terá provocado nos pais, a quem a mais velha Deus levou em vésperas de lhes dar o terceirto neto, foi sempre o centro das suas atenções e desvelos e, dada aquela sua docilidade infantil a que já me referi, foi sempre adorada por quem lhe era familiarmente próximo.

 

Porém, com uma total impreparação para a crua rudeza da vida real e para a qual nunca havia sido esclarecida, foi subitamente lançada para a torrente social do mundo em que vivemos o que, sem a ter afogado, lhe roubou definitivamente a pureza do ar que lhe teria permitido viver uma realidade bem serena e tranquila.

 

Bem ao invés disso e demonstrando, sem que nada o fizesse prever, uma congénita tendência para o facilitismo e o vício que o dinheiro compra, uma crescente ausência de sentimentos e uma real distinção entre o bem e o mal da natureza humana foram crescendo em si pelo que bem cedo a vida lhe traçou um destino de permanente infelicidade e de pouca ou nula lucidez que procurava colmatar com uma vida que se diria dissoluta e onde as diversas drogas que tomava, com ou sem prescrição médica, tiveram um papel preponderante.

 

Na aldeia ter-se-ia dito que estaria possuida pelo demónio. Na cidade, com os seus mais refinados e pretensamente eruditos hábitos, nem ápodo sequer lhe atribuiriam limitando-se a ignorá-la e a proporcionar-lhe uma existência cada vez mais desacompanhada e vazia que terminou um dia como se nunca tivesse existido isto a despeito da compaixão que suscitou em duas almas suficientemente caridosas que, esquecendo-se de si mesmas, consigo compartilharam alguns momentos da sua triste existência.

 

Particularmente tocado pelo que, transcorrido já um ano, aqui narro por terem acabado de mo contar, não posso deixar de sentir remorso por não ter querido acompanhá-la mais de perto e muito, muito triste pelo seu falecimento.

 

Por ela só me caberá agora expiar as culpas que porventura tenha e para ela pedir a Deus misericórdia no Seu julgamento.

publicado por Júlio Moreno às 00:57
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2 comentários:
De ella a 16 de Fevereiro de 2013 às 21:27
Para ELA, paz eterna a sua alma; para si, os meus profundos sentimentos....sei o que ela significou para a sua vida.......


De Júlio Moreno a 17 de Fevereiro de 2013 às 03:29
Obrigado ELLA...


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