De há muito que o meu subconsciente me vem interrogando sobre se serei ou não um potencialmente novo "velho do Restelo"!
É que a modernidade, que me lembro de, em tempos idos, ter acalentado e desejado tanto surge-me hoje como fastidiosa, inconsequente, ilógica e quase insana!
Assim, numa perspectiva sempre audaciosa e falível de auto-análise, sempre discutível, vejamos o porquê, ou melhor, os porquês de tal sentir:
Primeiro: - não entendo como, em nome de uma liberdade e de uma democracia, de há milénios, bafienta e nunca com significado consensualmente aceite, (vidé a definição que dela já dava o clarividente e verdadeiro herói do meu tempo, Sir Winston Churchil!) não entendo como se permite conceder, sem uma reacção oportuna, decisiva e marcadamente autoritária de quem governa, e antes passivamente aceitando, o direito às greves que, talvez beneficiando algumas dezenas de indivíduos corporativamente unidos por classes que sabem ser bem essenciais ao colectivo mas que, sem qualquer outra representação que não seja a delas mesmas, se permitem prejudicar milhares de cidadãos e causar milhões de prejuízo a um país já bem depauperado pelas duvidosas manigâncias de um governo de vergonha que de tudo se serviu para se manter no poder (donde “jamais” quereria ter saído) tendo à sua frente um indivíduo sem escrúpulos e de moralidade mais do que duvidosa e que se encontra hoje em Paris vivendo bem e sem quaisquer dificuldades económicas o prudente auto-exílio que a si mesmo se impôs!
Recordamos neste ponto e apenas as sucessivas greves dos ferroviários e a dos estivadores do centro e sul do País.
Segundo: - não entendo a graça grotesca que hoje uma comunidade acarneirada encontra a uns quantos pacóvios de rua que brilham nas ribaltas radiofónicas e televisivas para um povo embasbacado que, sem que o sinta ou saiba mas que, bem lá no fundo, creio se rirá mais de si mesmo do que propriamente das idiotas quando não grosseiríssimas asneiras que nas Tvs e rádios vê e ouve. Será este o triste fim de quem se diz haver sido um dos alunos mais brilhantes de uma certa universidade ou a prova evidente de que a universidade já não satisfaria e permaneceria como tal e com tal estatuto num exame que a si mesma pudesse realizar?
Recordamo-nos de um tal Araújo Pereira, hoje não só na TV como igualmente na rádio onde, pelos vistos, se tormou indispensável, e de um certo programa, nojento e revelador do pouco respeito que a si próprio o povo vem merecendo – a Casa dos Segredos - apresentado por uma graciosa e poética figura feminina que dá pelo nome de Teresa qualquer coisa mas que, segundo dizem por aí, é mesmo à conta dos papalvos que bons cobres vai metendo ao bolso...
Terceiro: - se bem que já conhecida como ex-libris do governo da velha senhora a política dos três Fs (o fado, o futebol e Fátima), custa-me a aceitar o tempo hoje ocupado pelas emissões televisivas pelo futebol comentado e em notório detrimento de todas as demais práticas desportivas.
Não que me surpreendam as transmissões dos jogos, que esses bem entendo que sirvam de lenitivo e entretenimento ao público ajudando-o a esquecer certas desventuras das suas próprias vidas, como a crescente carestia e o temível flagelo social que é o desemprego, ambos parecendo imparáveis, mas reavivando o natural e vivificante entusiasmo subjacente a todo o ser humano.
Porém já não entendo as infindáveis horas que as TVs passam a comentar resultados, tácticas de treinadores – a maior parte de bancada, como soi dizer-se – os erros dos árbitros e sobretudo as longas a catedráticas intervenções do Prof. Dr. Rui Santos que, além de escalpelizar ao milímetro cada chuto ou cabeçada, quer hoje levar mesmo à barra da ciência tecnológica do seu programa uma “verdade desportiva” dotada de poderosos meios técnicos que determinem se a bola ultrapassou ou não em mais de metade do seu diâmetro para que seja considerada fora (creio que é assim, não é?) das linhas que limitam o campo ou se passou ou não, na balisa, o plano vertical que parte da linha inter-postes para que seja golo!
Quarto: Não entendo igualmente como na frente de uma encaixilhada amálgama de cores dispostas a esmo e sem traços harmónicos que completem uma visão organizada do que quer que seja mas a que se chama “quadro” e que as possam justificar se amontoem pessoas e se discutam especulativamente os estados de alma que terão levado o “artista” a fazer o que fez sem nunca ter ouvido dizer que este talvez devesse estar no Júlio de Matos ou, se no Norte, no Conde Ferreira (hoje já desaparecido, ao que julgo saber).
Recordo, a propósito, o episódio da pequena multidão que se aglomerava junto de um quadro exposto numa galeria e comentava vivamente o que via e qual teria sido o estado de espírito do artista que o pensou e criou quando, inesperadamente, surgiu o próprio artista-autor acompanhado de um homem de bata banca contra o qual se insurgia por haver dependurado aquele seu” quadro “ precisamente – imaginem! - "ao contrário”, ou seja, de pernas para o ar!...
Por estas e muitas mais razões que me abstenho de aqui alongar me interrogo: . estarei eu a ser influenciado pelo velho a que Camões se referia ou será que, como o quadro, é o próprio mundo que vai ficando de pernas para o ar?
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