Quinta-feira, 11 de Abril de 2013

Democracia à portuguesa

Vivemos nestes últimos quase quarenta anos uma autêntica história de ficção mais parecida como tendo saído de algum argumentista barato de Hollywood do que da própria realidade vivida por toda uma Nação servida por um Povo obreiro, dinâmico e voluntarioso mas fácil de enganar por uns quantos “capitães-heróis” – na sua grande maioria também eles enganados por meia dúzia de “infiltrados” - história essa que começou com uma revolução de “cravos” pretensamente organizada para derrubar um regime político mas que, na realidade, somente queria derrubar a política de um ministro e modificar uma lei que parecia prejudicá-los, a eles capitães, e que, correndo bem demais na rua e porque, de facto, o regime, sem o professor de Coimbra, apodrecera, foi sabiamente aproveitada por quem, de há muito professando atávicas ideologias marxistas - até aí habilmente ocultas porque totalmente avessas à ideosincrasia portuguesa – estava bem habituado a conduzir multidões e a mentir aos povos em nome da sua doutrina e dos seus métodos para obter o poder.

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Assim se subverteram os propósitos que trouxeram as tropas para a rua e assim pretenderam mesmo tomar o poder acabando por necessitar e conquistar o apoio, de última hora e no mais completo desespero de causa, da figura do então General Spínola, com quem tive a honra de trabalhar de perto, e a única que seguramente lho dava.


Prendeu-se muita gente inocente a seguir ao onze de Março, data atribuida ao contra-golpe de Spínola.


Entretanto libertaram-se agitadores profissionais, bombistas e ladrões o que muito agradou ao Povo que terá vivido o evento em jeito de romaria tal como, quando perante a Justiça romana, o terá  vivido a populaça farisaica diante de Pilatos ao decidir libertar Barrabás em detrimento de Jesus Cristo.


Por Rosa Coutinho e Vasco Gonçalves, habilmente secundados pelo paranoico Otelo muito mais apoiado por Álvaro Cunhal do que ele próprio supunha, Portugal inclinou-se perigosamente para o abismo onde talvez tivesse mesmo caído não fora a firme e esclarecida determinação militar e o sereno acerto governativo de um homem de quem muito pouco se tem falado ultimamente mas a quem Portugal muito terá ficado a dever: o General António Ramalho Eanes cuja figura de militar e de exemplar conduta moral e cívica é imperioso destacar aqui.


Em meu modesto entender Portugal nunca poderá ser uma democracia a menos que o seja de opereta, tal como vem sendo até aqui. E nunca poderá sê-lo pela simples razão de que aqui, neste cantinho da Europa, não nascem democratas mas sim autocratas, e mesmo assim em tão pouco número o que e muito vem comprometendo os nossos actuais índices demográficos.


E tanto assim é que, incrivelmente, e já desde 47 A.C. que Caius Julius Caesar o sabia e assim o terá mencionado no Senado com aquele célebre comentário, hoje tantas vezes mencionado, de haver “lá p’rós confins da Gália um povo que não se governa nem se deixa governar”...


E a verdade nua e crua é que os portugueses – e eu mesmo sou um exemplo vivo disso – são idiossincraticamente insubmissos, um pouco vaidosos por índole e aventureiros por natureza, isto para não falar – o que porventura seria incorrecto embora não menos verdadeiro – na sua natural propensão latina para a “vigarice e o oportunismo generalizados” isto no sentido mais abrangente possível peste pecaminoso termo.


Desde D. Afonso Henriques, hoje recordado com todas as honrarias como o herói fundador do reino, que assim  foi de facto isto não obstante se alegue de que, nesses tempos, os hábitos e costumes seriam outros, o certo é que este corpulento e belicoso Rei não só se voluntarizou sistemáticamente para combater os infieis como igualmente cresceu desprovido do mais elementar amor e respeito filial desafiando no campo de batalha e por invocadas razões de arreigado patriotismo a própria mãe a quem terá mantido prisioneira e, segundo alguns, mesmo acorrentada!


E não me venham dizer que esse tempo era um tempo de violência e de vale tudo, que o não era como no-lo veio a demonstrar o seu aio Egas Moniz ao pretender honrar, por ele e com toda a sua família, com a corda ao pescoço perante o Rei de Castela, a palavra desonrada.


Ora este facto, há tantos séculos ocorrido,leva-me hoje a encontrar algumas semelhanças com quem, no parlamento e fora dele, retomando a “noção de honra” que teria Afonso Henriques alvitra que a solução dos actuais problemas nacionais será a de, contrariando as promessas e os acordos assinados,“não pagar”a quem nos valeu em momentos de crise e nos emprestou dinheiro para que vivessemos porque confiou em nós!... Não fossem eles e estaríamos hoje em sério risco de ter de comer, temperado a gosto, o “asfalto” com que se construiram as dispendiosíssimas auto-estradas de que não precisávamos mas que serviram para a criação das tão faladas PPP e continuam a servir, e de que maneira, os interesses das concessionárias povoadas de ex-ministros , secretários e subsecretários de Estado... 


Toda a nossa História se encontra repleta de exemplos de querelas e guerrilhas por questões graves e por ninharias e toda ela nos demonstra que ao longo dos novecentos anos que já leva só os últimos trinta foram da denominada e louvada “democracia” que provocou o que hoje está à vista.


Os portugueses são bons, não há que negá-lo. São valentes, audaciosos e empreendedores mas acima, - ai meu Deus que  político sacrilégio! – acima deles tem de haver, e haver sempre, alguém que alie o discernimento à determinação e à força e que os “obrigue” a manterem-se nos carris.


Assim é, com efeito, porque, à mínima sensação de redea solta, logo se lançam à aventura, - os que querem mandar e os que são mandados - todos querendo dar ordens, ter razão e não dever obediência a ninguém a não ser a eles mesmos e muito menos acatar as instruções que lhes sejam ditadas por terceiros.


Conclusão: - democracia em Portugal; como em quase toda a Europa do Sul, parece-nos que é e será sempre utupia. Só que uma utupia perigosa e que facilmente poderá conduzir a uma fogueira que alastre sem controlo e sem que, por imprevisão e impreparação dos chefes, haja meios, ou mesmo vontade, para a apagar...


Não há dúvidas de que não nascemos para ser carneiros. Não nos queiram convencer disso mesmo que na nossa frente se perfilem, de branco ou de negro, os anjos que nos guiam ou os carrascos que nos acorrentem em nome de uma causa perdida... 

 

 

publicado por Júlio Moreno às 20:31
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