Terça-feira, 31 de Maio de 2005
Acabo de ouvir o programa da Fátima Lopes, no "SIC DEZ HORAS" (são 12h00 desta segunda-feira, 30Mai05), e fiquei, positivamente, de boca aberta com o que ouvi ao Dr. António Marinho sobre privilégios e desaforos na Justiça portuguesa!... E não só na Justiça, como também em outros sectores da função pública deste nosso desgraçado país!
Será que o Dr. António Marinho, homem que eu reputo inteligente, consciente, honesto e destemido, veio ao programa despejar eventuais frustrações pessoais e dizer só mentiras? Será que não, que só disse verdades? Será que não disse só verdades nem só mentiras, e que apenas se deixou empolgar pelo discurso e pela sua naturalíssima repulsa, que será a minha e a de todos nós, perante a onda de avassaladoras poucas vergonhas que o país atravessa?
Será que há mesmo senhores a auferir duas reformas e ainda ordenados de deputados?
Será que há magistrados a auferir proventos, legais mas ilegítimos e a todos os títulos indevidos, pelo que, assim sendo, não se deveriam sentar nas poltronas dos juízes mas sim nos bancos dos réus!
Será que há magistrados cuja punição por mau desempenho ou conduta é a reforma compulsiva com a manutenção de todas as regalias económicas e sociais que auferiam à data da punição e que, por isso mesmo, muitas vezes a buscam e provocam?
Será que os senhores magistrados auferem de cuidados de saúde em clínicas privadas e não se encontram sujeitos às mesmas demoras, incertezas e vicissitudes de qualquer cidadão deste país?!
Será?!...
Perante isto, penso que o senhor Ministro da Justiça terá de vir a terreiro, E JÁ, dizer-nos que tudo isto não se passa assim, que se trata de exagero ou despeito do Dr. António Marinho, e que, de uma vez por todas, vai explicar-nos as situações ambíguas vindas de denunciar e quais as benesses de que, efectivamente, usufruem os senhores juízes deste país bem como quais os circunstancialismos que as rodeiam na sua aplicação prática.
Senhor ministro, todos seremos ouvidos atentos e esperamos os seus esclarecimentos...
E já agora, senhor Primeiro-Ministro, o senhor sabia disto? O senhor sabe disto? Que pensa fazer, senhor Primeiro Ministro, que vai fazer e para quando uma palavra de esclarecimento, mas que não seja política, ao povo que o elegeu? Uma palavra que não seja política, uma palavra que seja verdade e uma verdade que seja apenas e tão somente verdade pois verdades políticas, vontades políticas, responsabilidades políticas e políticas, de todos os tamanhos e feitios, manifestadas em discursos solenes e circunspectos, estamos todos sobejamente fartos!
E não se esqueçam, senhores juízes, senhores políticos e demais senhores que tanto defendem e protegem o povo que tão mansamente vão roubando, não se esqueçam de que, um belo dia, o povo, que é sereno!, poderá cansar-se da vossa protecção...
A ser exactamente assim e tal como disse o Dr. António Marinho para quem o quis ouvir, só me resta ficar de boca aberta e vir aqui dizer: - mas que refinada pouca vergonha!
Greve de médicos!!!... Nunca pensei que algum dia pudesse vir a assistir a uma coisa destas! Entendo a medicina como sempre a vi praticada por meu saudoso pai: - um sacerdócio!
Que eu saiba, nunca ninguém "obrigou" os senhores "clínicos grevistas" a fazerem o juramento de Hipócrates! Mas fizeram-no e, agora, ocupando os lugares de serviço público para que concorreram, permitem-se desguarnecer a frente de combate que juraram defender, deixando-a, enorme e cada vez mais vulnerável, ao inimigo dos nossos dias que, sempre renovado e insidiosamente, a espreita - a doença!
Senhores doutores, pelo que vejo, imagino que os senhores não seriam nunca capazes de ser protagonistas do que, seguidamente, passo a recordar: - São 3 da madrugada e a chuva e o vento parecem querer arrasar a terra! Batem à porta.
- Senhor Dr!... Ela está muito mal!... e seguem-se umas curtas explicações preliminares do "diagóstico" já feito por quem batia.
- Está bem!" - respondem. - O carro vai lá?
- Não, senhor doutor, mas junto do pontão está um cavalo à espera!...
- Vou já... - e o médico que assim respondera, enfiava um casacão de cabedal, punha um cachecol de lã e o chapéu e abalava com a sua pequena mala da "ferramenta" para só regressar bem depois do meio dia, com a barba crescida, um aspecto cansado mas um certo ar de júbilo no olhar.
- Mais um rapaz... esteve difícil..." - foi a curta resposta dada à pergunta que, curiosa e vendo-o chegar, a sua mulher e minha mãe, lhe fizera.
Não têm pena, senhores clínicos grevistas, de que isto nada tenha a ver convosco?...
Segunda-feira, 30 de Maio de 2005
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