Sábado, 30 de Julho de 2005
Pois que venham todos os sábios economistas explicar-me, a mim, que sou merceeiro, que a OTA e o TGV são um benefício para a economia nacional que eu não acredito! Não acredito e mais: - acho a decisão, no actual momento de crise, um crime de lesa pátria!
Claro que não será por cega contenção de meios que se deverão deixar de efectuar os plantios capazes de garantir melhores colheitas; mas, a racionalidade, que não a teimosia (e sabemos bem ser essa uma das qualidades do actual primeiro-ministro recorde-se a co-incineração), a racionalidade, dizia, deverá ser um dos mais basilares e fundamentais princípios que os senhores do poder deverão observar. Ora e para já, parece não haver racionalidade quando 3 economistas (o senhor ministro também conta) afirmam o que 13 e a maioria do povo português contestam! E se é esta vontade minoritaríssima que prevalece, algo vai mal!
Com efeito, para mero gáudio de uns quantos já fortunas imensas se gastaram em Centros Culturais, em Expôs e em estádios de futebol sem que as contrapartidas que se anteviam e fundamentaram os estudos feitos melhorassem a vida dos portugueses! Quanto aos estádios, só uma visão miúpe pôde considerar útil o investimento feito, que o não foi, tal como ficou demonstrado, nem por rentabilidade nem por razões sérias de segurança, as quais, atento o actual momento que vivemos, deveriam ter sido equacionadas e não o foram depois os gabinetes de crise!
Teimar agora em mudar para a OTA o aeroporto da Portela, considerando a existência do aeroporto Sá Carneiro, do Porto, cujas obras de ampliação se fizeram na mira de conquistar todo o norte nacional e a Galiza, e considerando as auto-estradas já existentes e as que se projectam ou se encontram em vias de conclusão, que - essas sim - sempre me pareceram investimentos úteis desde que criteriosamente definidos os respectivos traçados (nem sempre os melhores), parece-me como que uma espécie de pleonasmo aeroportuário que, por todos os meios, seria de evitar.
Sair de Lisboa, quase do centro da cidade, parece-me correcto e necessário pelo consabido perigo para a cidade que representam as manobras de descolagem e aterragem de aviões. Mas isso é problema velho e que desde há muito que deveria ter sido resolvido sobretudo quando a tecnologia aeronáutica representava maiores riscos do que actualmente. Não o foi. Creio que não será agora, que o povo geme de aflição com a seca e com os fogos e que, mais do que nunca, aperta o cinto, que essa questão se porá pois, se o movimento de aviões aumentar, como se prevê, alarguem-se as instalações actuais para as de Figo Maduro e a aviação militar que passe a operar na Ota ou no Montijo. Investir, agora, milhões numa obra necessária (a retirada do aeroporto do centro da cidade) mas não urgente, como sempre foi considerada, e que não garante qualquer retorno isso é que não!
Quanto ao TGV: - Vamos fazê-lo para quem? Para utilidade nossa, dos portugueses, ou para a Europa e suas ambições privilegiadas? Será que os portugueses vão optar por pagar o dobro para reduzir em 15 minutos o tempo de deslocação entre Lisboa e Porto? Será que os espanhóis e os europeus (indiscriminados, que nos visitem) vão optar pelo TGV em detrimento da Tap ou dos aviões de outras companhias aéreas? Não se irá provocar uma nefasta guerrazinha entre a CP e a Tap, com as consequências que desde logo se poderão prever e que poderão ser tudo menos de melhoria das nossas precaríssimas condições de vida?
Quem diga que vivemos numa democracia e que é o povo quem mais ordena, ou está louco ou é cego. A ver vamos
Quarta-feira, 20 de Julho de 2005
Pasmo!...
Pasmado é o termo que mais me tem ocorrido ultimamente perante as diferenças abissais entre o que vejo e o que via, entre o lógico e o ilógico, entre as trapalhadas em que todos, directa ou indirectamente, andamos metidos à conta de governos que não governam, de políticos que só se enchem e da gente de hoje que parece só querer praia e forrobodó!
Noutros tempos, onde iriam já os senhores ministros, os senhores deputados e esta gente toda!... Saudosismo? Talvez. Mas cheio de razão e, sobretudo, de racionalidade. À falta de melhor e parafraseando o africano que exclamava -"mas quando é que acaba a independência?" eu quase que serei levado a dizer - "mas quando é que acaba esta democracia?" (porque a outra, a autêntica, essa corre-me nas veias desde menino...).
OTAs e TGVs! Sim senhor! Exactamente o que o País mais necessita! Com o desemprego a subir em flecha, a iliteracia e a ignorância a assentar, cada vez mais, os seus arraiais, a seca já calamitosa!... Com tudo isto e o senhor ministro promete-nos OTAs e TGVs para esta legislatura!!!... Só poderá estar a brincar. Não pode ser outra coisa! Mas, brincar com coisas sérias, isso não se faz, senhor ministro...e, já agora e por maioria de razão, senhor primeiro-ministro também!
Para quando o investimento sério e urgente na potabilização da água do mar para regadio e utilizações menores? Para quando a adequada formação de professores que saibam incentivar os alunos e lhes ministrem lições de verdade e que perdurem para além das noitadas em discotecas da moda? Para quando mais professores, mais escolas, mais hospitais e mais recursos de saúde?... TGVs! Pasmo! OTAs! Pasmo!... Será que estarei destinado a ficar pasmado daqui por diante, tais são os desatinos dos governantes e as poucas vergonhas de certos políticos!...
Ai, D. Sebastião, D. Sebastião! Nunca como hoje terás sido tão desejado!
Sexta-feira, 8 de Julho de 2005
Acompanho com a atenção que me é possível os seus comentários neste nosso Portugal, mais Horário do que Diário, e posso dizer-lhe, sem lisonja, que perfilho a sua opinião na maior parte das vezes já que se me revela ponderada, esclarecida e lúcida. Um dia cheguei mesmo a vir dizer-lho aqui. Está recordado?
Mas, vem isto a propósito do seu último comentário sobre o panorama bombístico dos últimos dias que vem sendo tratado pelos mídia de forma bombástica e frequentemente bastante irresponsável e, nesta oportunidade, gostaria de acrescentar que assuntos de segurança, e não só sobre o tema bombas, são, por princípio, de natureza reservada, confidencial e secreta não devendo, por isso, suscitar quaisquer comentários ou colocar hipóteses, antes devendo, e quando absolutamente necessário, fornecer às pessoas a informação de que, efectivamente, careçam para sua protecção.
Comentar, especular, falar sobre bombas sem ser em sede própria é perigoso, contraproducente e revela imponderação. O que se passou ontem em Londres foi grave e poderá ser considerado como um cataclismo da natureza humana pois, tal como os tremores de terra e as erupções vulcânicas, jamais poderão ser previstos e, consequentemente, prevenidos. Daí que os tenhamos de aceitar como mais um dos males dos nossos dias produzido, apenas, pela civilização que criámos e à sombra da qual vamos vivendo. O progresso, caro Sr.
, faz-se em todas as direcções, tanto na do bem como na do mal, e a criminalidade vem sendo frequentemente usada como bitola de medida para a obtenção de índices de desenvolvimento e de progresso. Impensável, não é? Mas é mesmo assim
Regressando às bombas, gostaria de dizer ainda que comentá-las em demasia é fazer o perigoso jogo dos bombistas que, neste caso, além de decididos a matar indiscriminadamente colherão dividendos do estrondo público que elas fizerem, assim granjeando novos adeptos e mais financiamento. Desprezá-los sem os ignorar será, quanto a mim, a única forma de premiar os seus hediondos feitos.
Continue escrevendo pois continuo a dizer que aprecio a leitura das suas linhas.
Quinta-feira, 7 de Julho de 2005
A CGTP promete greves e contestação social para depois das férias!...
Pasmo! E pasmo, por variadíssimas razões:
Primeira: - porque a CGTP parece dar a primazia à contestação e às férias em detrimento do trabalho cuja defesa tanto apregoa;
Segunda: - porque a CGTP, querendo o bem (melhoria das condições laborais), pretende obtê-lo, numa época de crise acentuada, através do confronto e extremando posições, afugentando o patronato que - ainda não entenderam! - se está nas tintas para as suas reivindicações e fecha e abre as empresas como, quando e onde lhe apetece;
Terceira: - porque nunca vi resolver uma crise através de outra de consequências extremamente gravosas e altamente negativas para a primeira não se trata nem de um contra-fogo (técnica de combate ao fogo utilizada pelos bombeiros) nem de um antíodoto produzido com o veneno que se pretende neutralizar!
Quarta (e última, por agora): - porque não entendo como Carvalho da Silva, um homem coerente, inteligente e, pelo que tem demonstrado e já nos habituou, senhor de princípios, embarca no jogo manipulativo daqueles que o rodeiam e que, anónima e graniticamente, continuam a não perceber que não foi, não é, nem nunca será desta forma que se melhorarão as condições de vida das classes trabalhadoras tanto neste como em qualquer outro país que seja tão dependente da ajuda externa como nós somos.
Parafraseando as Escrituras, apetece-me dizer: - "Povo!... perdoa-lhes que não sabem o que fazem!..."
Segunda-feira, 4 de Julho de 2005
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As fábricas americanas, japonesas, francesas
deslocam-se para a Roménia, Eslovénia e mais países de leste. Mão-de-obra barata, gente sedenta de viver o que nunca fez sob o jugo marxista-leninista. Os operários portugueses ficam sem trabalho. Conhecem o motivo mas insistem na greve e nas reivindicações, para já utópicas, no que são incentivados e motivados por sindicalistas que nunca vi em greve. As reivindicações, as greves e a pobreza ficam mas os postos de trabalho vão-se
Há falta de colaboradores (como hoje politicamente para não dizer hipocritamente - se chama a quem trabalha) e existem, disponíveis, no calçado, nos têxteis, na confecção e mais indústrias e serviços, postos de trabalho que o dinheiro fácil de um subsídio de desemprego sem controlo permite que sejam recusados.
Estes, alguns factos e apenas factos. Tirem as vossas conclusões que eu, por cá, já tirei as minhas
A fria análise dos factos que o presente artigo me suscita é a de que, nas actuais circunstâncias, já quase nada haverá a fazer que possa levar o país ao rumo que se deseja! E como a afirmação, por ousada, poderá suscitar alguma ambiguidade, passo a explicá-la:
- Na verdade, repetir um discurso (Marques Mendes) ou comemorar os cem dias (José Sócrates), ser-se entrevistado pela Tv uma, duas ou mil vezes, nada disso interessa ao país e, ao que parece, serão apenas frases ditas para encher o espaço, cada vez mais vazio, da acção política ou então só para não se estar calado!
Os factos, esses sim, falarão por si e repercutirão no corpo social e doente do país, agravando-lhe os males de que padece e tornando cada dia mais longínqua a almejada esperança de cura.
Já todos sabemos que o primeiro-ministro não pode vir alegar desconhecimento do deficit pois se candidatou ao lugar e, ao fazê-lo, ou tinha pleno conhecimento dos assuntos pelos quais se iria responsabilizar ou, se o não tinha, revelou à partida uma imaturidade pessoal e política e uma tão desmedida ânsia de poder que, desde logo, o deveriam ter tornado inelegível para o cargo! Mas foi eleito primeiro-ministro.
Como consequência deste facto, surge nas Finanças um competente técnico - isto no dizer de outro técnico que, em tempos idos, nos brindou com um interessante tabu; mas este técnico novo, que agora surge e que já ocupara cargos elevados no aparelho público do Estado, mercê dos elementos de que então disporia, não devia ignorar, por certo, que o país vinha resvalando para o atoleiro em que hoje se encontra. E, não o ignorando, que fez então o técnico? Juntamente com outros, atribuiu-se a si próprio um vencimento legal mas imoral e usou das suas competências legais para criar a imoralidade das imoralidades: - a atribuição a si mesmo, vitaliciamente, de uma reforma por inteiro ao cabo de seis anos pasme-se: seis anos! de canseirosos trabalhos! E é esse mesmo técnico, hoje ao serviço das Finanças públicas, quem vem pedir ao povo que mais se sacrifique ao mesmo tempo que defende, até ao limite das suas forças, a manutenção dos privilégios a que se julgava com direito e que, de facto e de jure teria mas que a mais elementar legitimidade lhe negava! Mas foi nomeado ministro.
Nesta problemática de equívocos sucessivos se inserem, pois, as medidas de austeridade que, qual trovoada de verão, colheram de surpresa todos os portugueses e a revoada de intenções com que o novo discurso político nos brinda diariamente. Resultados? Descrentes, esperaremos para ver. Mas o aumento do IVA aí está.
Entretanto, a insegurança surge como facto incontroverso (incontornável é assim que se diz, não é?) dos nossos dias (assassinatos de polícias, assaltos a banhistas por hordas de vândalos violentos e completamente desintegrados numa sociedade que recusa o racismo mas que o pratica, - não por ir à horta mas por ficar à porta -, crimes antes ignorados neste país dito de brandos costumes) tudo isto factos que se inserirão numa vasta e actualíssima problemática sócio-política que, até ao momento, não vi ser abordada, nem sequer aflorada, como seria mister que de há muito o tivesse sido e por verdadeiros técnicos que não por políticos e inerência de funções. Televisões e jornais falam, comentam e enchem-se de disparates, de inoportunidades, de conclusões e deduções sherlokomianas e palisseanas que fazem notícia e enchem de conhecimento a gula desmesurada da enorme massa de espectadores, ouvintes e leitores ignorantes! Como exemplo típico: - comenta-se que determinado assalto numa rodovia poderia ter sido detectado pois as barragens da via quando por motivo de obras verdadeiras são sempre precedidas de indicação sinalética
Muito obrigado, dirão os delinquentes interessados, aprendemos a lição e para a próxima já não nos esqueceremos.
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