Terça-feira, 21 de Fevereiro de 2006
Fujamos dos homens que tudo o que sabem provém dos outros e que nada aprenderam por si e em si próprios. São os intelectocratas do nosso tempo que nos querem escravisar a procedimentos estáticos e estandardizados.
Ser solidário não é só partilhar o pão. É partilhar o sentimento na ausência desse mesmo pão.
O mundo está como está porque em 99% das vezes são os ricos a decidir do futuro dos pobres e só em 1% dos casos estes decidem do futuro dos ricos. Mas, para que tal aconteça, é sempre necessária uma revolução e uma revolução tem sempre resultados incertos: - primeiro, porque os ricos têm as armas e não a razão, o que os torna mais fortes e desumanos; segundo, porque os pobres, tendo a razão, não têm nem as armas nem a educação, o que os torna duplamente mais vulneráveis. E a uma revolução mal sucedida segue-se sempre uma repressão plena de sucesso.
Domingo, 12 de Fevereiro de 2006
Tanto quanto eu os conheço, os dinamarqueses não são arruaceiros, quezilentos ou mal educados. Tanto quanto os conheço costumam ser irrepreensíveis no porte e no julgamento. Excepções, essas existem em qualquer lado sendo consabido que é a excepção que faz a regra. Não me admiro, portanto, destes 50 e tal por cento (que, se virmos bem as coisas, até podem ser bastante mais) a condenar o acto reprovável do seu rabiscador de desenhos.
O que me surpreende é que em Lisboa e, de um modo geral, em Portugal, haja mais dinamarquesismo que na Dinamarca! Certos portugueses parece que não se importam com o facto de se estarem a transformar no expoente do ridículo europeu. É o que acontece a quem a liberdade, talvez por nunca terem provado a sua restrição, sobe demasiadamente depressa à cabeça. Tal como o vinho ou a cerveja, tomam-na em excesso e o resultado vê-se.
(A propósito do manifesto que se pretende enviar ao MNE inserto nos comentários do PD de hoje, 12Fev06)
Fico completamente atónito com o que se passa: - querer falar de liberdades e sobre elas discorrer a quem as não conhece e as não entende!
Já vimos muçulmanos responsáveis, eruditos e cultos, que há muitos e felizmente que os há, aceitarem as desculpas e promoverem a paz e a concórdia, mas a massa, a enormíssima massa dos que nada têm a não ser o pó do deserto, essa não compreende porque não entende e como não entende não aceita.
Experimentem os doutos signatários do erudito manifesto falar dessa forma, ou noutra que entendam por mais adequada, mas igualmente dialéctica, segundo Kant, e tresandando sabedoria, ao leão que subitamente se lhes deparar no mato; experimentem apaziguar com falas eruditas e mansas como o seu nadar o tubarão que encontrem naquele aprazível e descuidado banho de mar.
Pode acontecer que nem o leão nem o tubarão os ataquem e, altaneira e pacificamente, se afastem por se não sentirem ameaçados. Mas bem pode ser que interpretem o vosso simples movimentar dos lábios no articular do vosso belo discurso como uma ameaça à sua integridade e logo se predisponham à luta com os únicos argumentos que conhecem: - a força, a violência!
Com isto não insultamos nem o leão nem o tubarão. Apenas e tão somente constatamos factos e, prudentemente, se algum dia os encontrarmos, procuraremos ter o discernimento bastante de não os provocar.
Eruditos signatários do documento em questão: - conduzir o problema aos níveis a que o fazem parece-me desonestidade intelectual e falência mental fazendo-me recordar a anedota do examinando que, aflito na sua ignorância, responde ao mestre que o interrogava, que burla a praticava ele nesse momento já que pretendia valer-se da sua ignorância para o prejudicar.
Sou livre, não sou? Esta é a minha inabalável opinião.
Terça-feira, 7 de Fevereiro de 2006
Não sou um particular admirador do Prof. Dr. Freitas do Amaral como já o não fui de seu pai de quem guardo algumas amargas recordações. Desde os primórdios do CDS muitas vezes o critiquei pela ambiguidade das suas posições políticas. Sobre este assunto e neste momento, porém, tenho de dizer que concordo inteiramente com as suas palavras, poucas mas as bastantes para condenar o acto e, sobretudo para difundir doutrina que é o que faz falta para educar a malta.
Não há dúvida de que nos dias de hoje emerge, com a força inusitada do oportunismo e alicerçada no virtuosismo de alguns dialécticos do traço, da câmara digital e da palavra , um jornalismo sensacionalista de vão de escada e uns pretensos desenhadores de estados de alma os quais vislumbro, nos antros dos seus ateliers, numa incessante busca da originalidade seja a que preço for e resultando dessa azáfama uma obra medíocre, talvez prima daquela com que haviam sonhado e que, se não tiver o condão de logo inflamar os ânimos, como é agora o caso, cedo passará ao esquecimento já que nada tem que a conote sequer como uma obra.
E perante as liberdades que apregoam e de que tanto se arrogam, a pergunta surge-me, talvez infantilmente: - seria o rabiscador de desenhos dinamarquês capaz de dar à estampa uma obra de arte que mostrasse a sua progenitora que, por desconhecida, teria forçosamente de ser legendada - a executar os actos que seguramente terá executado por forma a propiciarem a concepção e o nascimento de tão deslumbrante génio?
A liberdade poética de um idiota e a teimosa aleivosia de um democrata já fizeram seis mortos. Quantos mais se seguirão?