Sábado, 29 de Abril de 2006
Nenhum homem é insensível às razões dos outros. O que acontece é que estará mais interessado em defender as suas do que em procurar entender as que as contestam
Concluo que o egoísmo intelectual que vem prevalecendo será uma das principais causas do atraso em que se encontra o país.
O princípio é valido sobretudo para os políticos: - quanto mais alto se encontram nos respectivos cargos menos vêm da realidade que os envolve devido, talvez, ao intenso nevoeiro que costuma pairar nessas altitudes
.
Hoje em dia sabe-se muito de pouco e pouco de muito. É esta falta de visão global que mais afecta e compromete os homens nas suas decisões. Por isso mesmo tenho muito medo dos especialistas
O conceito de esperteza anda tão intimamente ligado ao da desonestidade que nos dias de hoje bem poderá sentir-se ofendido aquele a quem apelidarmos de esperto
Quarta-feira, 26 de Abril de 2006
DO PORTUGAL DIÁRIO DO www iol.pt: Papa usa roupa de marca 2006/04/25 | 17:41 Bento XVI tem óculos escuros Serengeti e um iPod Apple personalizado
O erro não é do Papa. Não por causa da sua dogmática infalibilidade mas porque o erro é de quem oferece e, sobretudo de quem especula com este assunto.
Que deveria usar o Papa? Óculos de vidro de fundo de garrafa ou passar sem eles? São de marca? Que eu saiba tudo tem marca mesmo o que não tiver marca - a sua ausência será a marca do produto. Que roupa deveria vestir o papa? E calçar? Se o sapateiro, antes de oferecer os sapatos ao papa, deles retirasse a marca, como nós retiramos o preço quando oferecemos uma prenda, se o fotógrafo fotografasse o Papa e não os sapatos e se o colunista que comentou o assunto o não tivesse feito, talvez todos tivessem procedido bem melhor!
Comentários deste teor atestam bem a degradação de pensamento na sociedade de consumo em que vivemos e a quase desumana pressão do marketing que sofremos - isto, como se diz hoje para se parecer moderno e, já agora, up-to-date.
Mas
para que perco eu tempo com isto?
Terça-feira, 25 de Abril de 2006
25 de Abril - É precisamente hoje, dia festivo para alguns, de tristeza para outros e de desalento para muitos, além de que com tendência para passar de moda, que me ocorre a ideia de que, dada a velocidade com que estamos caminhando prá frentex e no âmbito do recém-descoberto simplex (arcaico pirosismo!), não muito longe esteja o dia em que vejamos o primeiro-ministro José Sócrates passar a único-ministro José Sócrates e a sua acção de governo materializar-se em frente de um poderoso computador pessoal (e intransmissível) ligado à internet, em teleconferência permanente com os seus telegovernados e, de quando em vez, fazendo o delete ou o download de ministros, secretários de estado e administradores virtuais, bem como de todo o respectivo staff!
Isso sim, será progresso e resultado digno de um 25 de Abril moderno e tecnológico! As novas estradas cibernautas dispensarão as enormes frotas de veículos do estado de alta cilindrada e elevado consumo, pelo que se irá poupar imenso combustível e, por todo o lado, se reduzirão drasticamente os encargos com o pessoal da função pública, permitindo equilibrar finalmente o orçamento do estado e seguir Bruxelas, a nova capital do recentíssimo império europeu!
Temo, no entanto, que tudo isto se não possa fazer a 25 por absoluta falta de tempo e que, por isso mesmo, alguma coisa tenha de passar para 26!
Quarta-feira, 19 de Abril de 2006
Do Portugal Diário da www.iol.pt:
25 de Abril sempre
2006/04/14 | 17:57 || Judite França
«Aqui posto de comando...» Emitimos um especial sobre a Revolução. Há prémios, testes sobre o 25 de Abril, imagens históricas, filmes e música. É um regresso ao passado, com cravos para todos os gostos
Passam 32 anos desde o dia em que, aos microfones do Rádio Clube Português, Joaquim Furtado leu o primeiro comunicado do MFA. «Aqui posto de comando do Movimento das Forças Armadas. As Forças Armadas portuguesas apelam a todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma. Esperamos sinceramente que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal, para o que apelamos para o bom senso dos comandos das forças militarizadas, no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas (...)».
O meu 25 de Abril
Três horas da manhã. Tudo em sossego em casa, em Oeiras. Toca o telefone
Pareceu-me que tocava mas cedo parou. Foi o ruído persistente de uma nova chamada que me acordou de vez. Informavam-me, da Companhia de Seguros Império, onde fazíamos vigilância, de que havia soldados armados a pretender entrar nas instalações
- São soldados mesmo? - indaguei surpreso. - Sim
estão armados e vem um oficial com eles. Dizem que querem tomar posição nas janelas que dão para o Largo do Carmo
Deixo-os entrar? - Oh! Homem de Deus! Se são soldados e estão armados como me diz, que quer fazer? Fazer-lhes frente? Claro que os deixa entrar
Tem mais notícias de outros lados? Informe a Central e diga-lhes que sigo já para a Companhia. Eles que contactem o pessoal da TAP que me liguem pelo rádio para o carro pois saio dentro de 5 minutos
Passei por Paço de Arcos onde fui buscar um meu colaborador a casa. Ficou tão estupefacto quanto eu. Seguimos ambos e, durante o percurso pela marginal, Alto da Boa Viagem, Dafundo, Algés, Belém e Avenida Infante Santo, onde eram os escritórios, tudo calmo, ninguém na rua! Entretanto tinha já recebido a informação de que havia militares no aeroporto e nas instalações da RTP, EN e RCP, isto é, os pontos-chave tinham sido ocupados. Pela rádio do carro ia ouvindo os constantes comunicados do Movimento das Forças Armadas. Não havia dúvidas de que havia uma revolução em marcha
Já na empresa, mandei telefonar a todo o pessoal de escritório para os informar de que deveriam permanecer em casa e de que ninguém deveria comparecer ao serviço. Ao pessoal vigilante que, no momento, se encontrava de serviço foram dadas instruções precisas de que em caso algum deveriam constituir obstáculo a qualquer acção militar armada mas que deveriam permanecer nos seus postos mesmo depois de rendidos pois seria de prever-se um generalizado estado de confusão nas ruas que bem poderia ser aproveitado para assaltos de ocasião. O mesmo foi mandado transmitir à Delegação do Porto.
No meu gabinete, onde se tinham concentrado alguns inspectores e graduados que, entretanto, foram chegando, pudemos acompanhar pela rádio, em FM, todos os movimentos de tropas que se desenrolavam algures no centro da cidade. Assim, pudemos ouvir distintamente, o Brigadeiro Reis, que comandava no terreno os militares pró-governo, sugerir a utilização de meios aéreos
Teria sido uma carnificina!
Foi só já no fim da tarde de 26 que regressei a casa e pude descansar um bocado. A revolução triunfara e o Marechal Spínola presidia à Junta de Salvação Nacional juntamente com outros velhos militares, Generais Costa Gomes e Silvério Marques do Exército, Galvão de Melo da Força Aérea e o Almirante Pinheiro de Azevedo, chamados à pressa pelos capitães que se viram subitamente com um país nos braços! O regime estava podre. Todos o sabiam. Por isso caiu sem tiros, tendo bastado apenas um abanão mais forte para que tudo se desmoronasse. A hora era de euforia generalizada.
Lembro-me de, na manhã de 27, quando, conduzindo pela marginal. a caminho de Lisboa, e olhando o Bugio, ter tido a mesma sensação que tinha quando viajava para o estrangeiro! Senti-me como que fora do meu país!... Seria um pressentimento? Talvez
E digo talvez porque toda a esperança daqueles dias cedo se desvaneceu. A descolonização feita em África e em todo o ultramar foi uma vergonha, um crime de lesa-pátria, uma ignomínia e uma traição a quantos desde há séculos foram caindo por amor a Portugal! Ah! Se o Mouzinho ainda vivesse! Novos Gungunhanas, desta vez brancos, se ajoelhariam por certo a pedir o seu perdão!...
Assim, tomado que foi o poder por uma nova casta de políticos que, salvo raríssimas e honrosíssimas excepções, apenas se distinguem dos de antanho por serem mais descarados, mais ignorantes, mais palavrosos e em muito maior número, assistimos hoje à ruína do país e ao seu progressivo caminhar para o ponto em que se encontra: - à beira do abismo!
Ah! Já me esquecia de dizer que, entretanto, de 23 de Abril de 1975 a 23 de Dezembro do mesmo ano, por 8 meses (254 dias) fiz, no Forte de Caxias e na Penitenciária de Lisboa, um curso intensivo de vivência democrática com isso restabelecendo o que se poderá considerar uma tradição familiar já que ambos os meus avós, tanto o paterno, como o materno, ambos foram igualmente presos nos conturbados primórdios da República.
Terça-feira, 18 de Abril de 2006
Vivemos numa sociedade permissiva e, simultaneamente, intolerante. Mas não será isto contraditório? Se a sociedade é permissiva não será intolerante; se é intolerante não pode ser permissiva. Como conciliar então o paradoxo?
É que o que assim parece já não será assim de facto se, a estes dois conceitos, juntarmos alguns terceiros que farão toda a diferença: - a ignorância, a incultura, a jactância e a desonestidade, material e intelectual, que mais não representarão senão aquilo que vulgarmente apodamos de esperteza saloia.
E responsabilidades? Não há e se as há são muito poucas já que ninguém parece tê-las, nem mesmo quando se auto-atribuem, e se consentem, reformas fabulosas por apenas seis anos de atribulado labor isto quando um povo vive sem verdadeira escola e sem emprego e quase todo na miséria!
Ninguém parece ser responsável e acho imensa graça quando se fala em responsabilidade política, coisa que nunca soube o que era pois nunca vi alguém ir para a cadeia por se lhe ter reconhecido e atribuído responsabilidade política. E acaso alguém pagará alguma vez alguma indemnização a outrém se o fundamento do prejuízo for o êrro político por si cometido?
Avança a sociedade em que vivemos? Seremos hoje melhores do que fomos ontem? Vivemos melhor? Somos mais justos? Mais verdadeiros? Mais honestos? Que ilusão! Que desoladora ilusão! O que somos é muito mais tecnológicos, viciados, ocos e podres
Como deve cheirar mal dentro de certos carros ditos topo de gama e de alta cilindrada, BMs e quejandos!
Domingo, 16 de Abril de 2006
Gosto de ler e bem gostava de escrever também!
Isto é, gostava de que gostassem, já que eu quase nunca gosto!, daquilo que escrevo.
Há momentos em que julgo saber exprimir com razoável facilidade aquilo que penso ou sinto mas outros existem em que, por mais voltas que dê ao texto, o que quero dizer não surge, claro e explícito, no papel.
Será que, aos que são escritores de vocação e profissão, sucede o mesmo? Será que têm dias em que tudo o que escrevem apenas preenche linhas e enche folhas sem transmitir qualquer sentir, qualquer ideia? Será que o acto de escrever não lhes flúi, tranquilo, da pena ou das teclas do computador como se fora o caudal do pequeno ribeiro que, vindo da montanha e correndo, preguiçoso, por entre os campos, prossegue, incansável, o seu caminho na direcção do mar? Será que a obra escrita de um génio pensante lhe dará muito trabalho, tendo de ser amiúde moldada e corrigida, forçando o seu texto a encaixar-se no imaginário do pensamento do autor? Será com muitas ou com poucas palavras que melhor se consegue transmitir uma ideia? Será que um texto pode ter a mesma musicalidade de uma partitura?
Tudo isto me deixa perplexo e indeciso quanto ao facto de continuar escrevendo sobre o que quer que seja sem me revestir da humildade prudente que sempre deve acompanhar os pouco convictos. E se eu não estou pouco convicto quanto às ideias que me atrevo a abordar, seguramente que o estarei pela forma como o faço sentir aos outros através da palavra escrita. E essa pouca convicção pesa-me muito mais quando, por imperativos de vontade ou de função, me vejo compelido a escrever num idioma que não seja o meu e quando recordo que já uma vez alguém me disse que eu transmitia mais nas palavras que não escrevia do que propriamente naquelas que formavam e informavam os meus textos. Surpreendi-me que assim fosse mas, ao mesmo tempo, senti um tremendo orgulho nisso, em o fazer e, sobretudo, em que o dissessem.
E é a essas palavras que nunca escrevi que se deve a enorme felicidade que hoje enche o meu peito pois foi com elas que logrei encontrar de novo a minha alma gémea, alma para quem não quero mais escrever textos mas fazer música já que as minhas palavras soarão como música aos seus ouvidos.
Dei por mim a comprar um telescópio e a pretender ver planetas e estrelas, fascinado por esses mundos distantes e que a poluída atmosfera daquele em que vivemos nos vai tornando cada vez mais difíceis de observar!
É à medida que vou envelhecendo e que me vou sentindo progressivamente mais distante das fontes convencionais de conhecimento que mais me apetece estudar e saber para mais e mais conhecer. Porém, e não obstante os meus esforços em contrário, por cada passo que julgo dar em frente me parece que recuo dois, tão desmesuradamente grande, negro e sempre mais profundo se me apresenta o poço da minha ignorância! Por isso, só hoje lamento o tempo que perdi em futilidades durante esta curta vida e penso, cada vez com mais certeza, que, a partir de certo ponto do percurso, o homem já não avança mas que recua como se caminhasse no perímetro de um círculo onde o caminhar em frente o irá fatalmente conduzir ao ponto de partida!
Então, a questão que me ponho é precisamente esta: - caminharemos nós num círculo, voltando sempre ao ponto de partida, ou numa recta rumo ao infinito que, como ele mesmo se define, será inatingível?