Publicado na "Informação do IOL de hoje:
"Novo caso: morto em casa três meses até ser encontrado
"Morava sozinho em Cantanhede, mas alertas dos vizinhos tiveram resultados
"Por: Redacção / PP | 12- 2- 2011 15: 33
"E há um novo caso. Um homem esteve morto em casa durante três meses. Vivia sozinho em Balsas, no concelho de Cantanhede. Neste caso os alertas dos vizinhos tiveram resultados práticos e as autoridades agiram. A GNR entrou na habitação e deparou-se com o corpo do homem de 72 anos.""
Comentavamos ontem, visivelmente desagradados e algo contundentemente - o que verdadeiramente nos custou mas se nos impôs à nossa consciência de ex-militar da Corporação e de mero cidadão - a actuação deplorável da GNR no caso da senhora morta há nove anos no seu apartamento em Sintra!
Verificámos hoje, perante um novo e trágico sucesso, que muito lamentamos, mas que, simultâneamente, com enorme agrado registámos que a GNR terá reencontrado a sua verdadeira vocação de serviço, "Pela Lei e Pela Grei", ao ter entrado naquela casa de Cantanhede e encontrar, já morto, o seu infeliz locatário, homem de 72 anos, segundo a notícia.
Burocracias e formalidades que tanto gozo parece darem aos tecnocratas ministeriais - entre os quais assume particular relevância e talvez até a primazia o actual Ministro da Administraºção Interna que mais se parece com um Código do que com um ser humano - quando está em causa o bem público e, muitas vezes a própria vida dos cidadãos? Nunca!...
Paz à alma do infeliz falecido e bem haja à GNR da Cantanhede que, não se atendo a enredos burocráticos, tomou nas suas mãos, e bem, os avisos que o Povo lhe fazia.
Mais um episódio dos vários que prometi aqui narrar e que talvez ajudem a fazer alguma luz sobre o que terá sido a minha vida e a conturbada existência de muitos portugueses que, mesmo nos dias de hoje, e porque ainda teimam em viver, lhe estarão sofrendo as indeléveis consequências…
Estávamos nos últimos dias da primeira quinzena de Setembro de 1974 quando fui procurado por um amigo e ex-camarada meu da GNR, então a prestar serviço em Angola como major, que, sabedor da estima que o General Spínola tinha por mim, então na Presidência da República e que, por isso mesmo, eu evitava, tanto quanto possível, contactar, pedia a minha intervenção no sentido de tentar obter com ele uma entrevista.
Atendendo a que seriam razões ponderosas as que o levavam a fazer-me tal pedido, acedi e solicitei à minha secretária de então que telefonasse para Belém e procurasse saber dos serviços da presidência da possibilidade de conseguir tal audiência dado que o meu amigo major não demoraria muito a regressar a Angola.
Excedendo todas as nossas expectativas, dado o conturbadíssimo momento que atravessávamos, essa entrevista foi marcada logo para o dia 17 desse mês, às onze horas. Assim o comuniquei ao meu amigo e com ele combinei que, conforme seu desejo, o acompanharia a essa reunião.
Pontualmente, ás 11 horas do dia marcado, ambos comparecemos em Belém. Íamos em traje civil. Eu, como não poderia deixar de ser uma vez que abandonara a GNR, a meu pedido, em Março de 1969, e ele por opção óbvia.
Continuando distinguidos, como já havíamos sido pelo Presidente que acedera em receber-nos em tão curto espaço de tempo quando as audiências que lhe eram solicitadas demoravam semanas quando não meses a concretizar-se, as que o eram, foi sem surpresa da minha parte que, à hora marcada, fomos ambos introduzidos no gabinete Presidencial onde o General, que nos recebeu com visível satisfação, logo nos fez companhia num pequeno recanto do seu gabinete de trabalho, destinado aos visitantes e onde atentamente ouviu a pretensão daquele meu amigo – cujo teor, em boa verdade, hoje já não recordo.
Depois disso entrámos numa conversa que, para quem não conhecesse o General como eu já conhecia, poderia tomar-se como conversa banal mas que o não era, antes evidenciando da sua parte uma séria e muito profunda apreensão acerca do momento político que se vivia então, nomeadamente pelo que tocava à nefasta influência do General Vasco Gonçalves, então primeiro-ministro, e cujo antagonismo consigo era público e notório.
Terminada a reunião, feitas as protocolares despedidas e apresentados os nossos agradecimentos, mais de uma hora se havia passado quando, à saída, nos cruzámos com três generais, dois fardados e um à civil, que, já há algum tempo, esperavam a sua vez de serem recebidos e que nos olharam interrogativamente – recordo bem esse olhar – querendo obviamente saber quem seriam aqueles dois figurões que tanto se haviam demorado com o Presidente e que, se não tivesse sido a eles mesmos, tanto tempo haviam roubado à República!
A resposta, se então lhes pudesse ter sido dada, teria sido tão fácil quanto óbvia: - o Presidente voltara a sentir-se “com a sua gente”, sentira a presença dos seus “verdadeiros amigos” e quisera esvaziar com eles o seu já então “bem amargurado saco”…
Foi esta a última vez em que, pessoalmente, me encontrei com o General Spínola. Depois, foram as vicissitudes por que ambos passámos e muito mais tarde alguns recados e notícias que trocámos por interposta pessoa até à data do seu falecimento.
No dia seguinte, depois de muito ter meditado em quanto ouvira, decidi convidar para almoçarem comigo na Carregueira, - o “Lisbon Sports Club”, clube de golfe de que eu então era sócio – a alguns oficiais amigos e, como eu, apoiantes do General e a quem dei conta do que dele ouvira e das minhas apreensões sobre o momento político em que vivíamos.
Dias depois, a 30 de Setembro e com o seu inesperado discurso de renúncia ao cargo de Presidente da República, e que eu ouvi na rádio quando regressava da Caparica de uma visita de trabalho por questões de segurança a umas instalações militares da margem sul e fui interceptado por uma anedótica operação “stop”, feita pelos arruaceiros do costume, que me fizeram parar na ponte Salazar para revistarem o meu carro como, aliás. faziam a todos os restantes.
Era o já Copcon de Otelo no seu melhor!...
A propósito, recuso-me a designar a ponte Salazar por ponte 25 de Abril por entender que, nem no País vizinho, onde bem mais fortes teriam sido as razões para apagar os vestígios do franquismo, os espanhóis haviam deixado de respeitar a história como por aqui se fez e continua fazendo hoje!
Confesso-me perplexo e de tal forma confundido com o que chega ao meu conhecimento que chego a duvidar de que esteja a viver ainda no mesmo País em que nasci, cresci e me fiz homem.
Badalar por aí aos quatro ventos, como se notícia fosse, que uma pobre senhora foi encontrada morta no seu apartamento, juntamente com o cão, seu fidelíssimo amigo, ao fim de 9 (nove) anos ?! e considerar isso espantoso, é mesmo de bradar aos Céus!
Isso é vulgar. É normal e acontece quase todos os dias em todos os países civilizados! Não se entende, portanto, o porquê de tanto espanto e alvoroço?
Não percebo. Não percebo e muito menos perceberei ainda que o Comando-Geral da GNR (Corporação que, há mais de 40 anos, servi o melhor que soube e pude e à qual me vinha orgulhando de ter pertencido) se tenha dado ao trabalho de vir a público dizer que a GNR cumpriu exemplarmente a sua missão em nada tendo infringido as normas por que se rege ou sequer negligenciado as suas atribuições e funções a despeito das frequentes notícias que, ao longo dos anos, tanto familiares como vizinhos e amigos, lhe foram dando acerca do desaparecimento da referida senhora!
Mas tanto trabalho para quê? Para esclarecimento de um público idiota e pretensioso que julga saber o que a Guarda deve e não deve fazer?… Bom!... O melhor é esquecer o assunto e deixar para lá esses comentários que vozes de burro não chegam ao Céu, diz o Povo e com razão.
Mas... aquilo que, numa breve nota e com a devida e respeitosa vénia à hierarquia, gostaria de aqui acrescentar é que, se isto se tivesse dado no meu tempo, (e no do Grilo, então, e se bem me lembro, Comandante em Sintra), no tempo em que, como adjunto da Repartição de Justiça do mesmo Comando-Geral, estudava e analisava processos à lupa e formulava pareceres, alguns dos quais encomendados pelo então Brigadeiro e 2º Comandante Geral António de Spínola ou pelo próprio General Raul Pereira de Castro, das duas uma: – ou eu tinha sido posto na rua por indecente e má figura ou o General e os demais oficiais que o terão aconselhado neste público esclarecimento, tinham sido promovidos a segundos cabos e postos a comandar “sub-postos” lá para as bandas de Alguidares de Baixo…
Acabo de saber, às 23h40 deste dia 10 de Fevereiro de 2011, por notícia transmitida no canal 4 da minha televisão, sintonizado na TVI, esta coisa extraordinária (!), maior mesmo do que a crise que atravessamos: - Ouvi a locutora dizer que o Banco Central Europeu "interviu"...
Não acham extraordinário que um Banco, ainda por cima Central e Europeu, que não é propriamente um banco qualquer e muito menos uma mísera cadeira (!), tenha "intervisto"?
Eu cá por mim acho. E tanto acho que me apresso a dar a notícia aqui e a pedir a quem me leia e tenha, porventura, influência junto daquela estação televisiva - não confundir com "apeadeiro" pois que de uma estação verdadeiramente se trata - no sentido de mandar a senhora locutora para a pré-primária pois só recomeçando aí talvez consiga aprender a falar português "inda" por cima ao microfone ou lá o raio que isso é!...
Notável o poder de síntese de Margaret Thatcher quando afirmou um dia: - "O socialismo dura até se acabar o dinheiro dos outros..."
Qualquer comentário que fizesse ao que acima ficou dito seria havido como o mais absoluto "nonsense"...
Comentário a um comentário sobre um tema que me é caro e que, já por algumas vezes, aqui trouxe já: a língua portuguesa, e que eu bem gostaria de ter aprofundado em devido tempo já que agora será tarde pois “burro velho não aprende línguas”, nem que seja a sua!...
Voltando ao assunto e, depois de declarar o meu total apoio ao Senhor Embaixador pelas suas considerações neste post "Suissa" do seu blog "Duas ou três coisas", direi ainda que, coisas há que a ciência, no seu estado actual, não saberá explicar muito bem ainda. Entre elas estará esta coisa esquisitíssima a que se chama “hereditariedade”.
Meu avô paterno, filólogo, pedagogo, dicionarista, gramático, prosador e ligeiramente poeta, Augusto Moreno, de seu nome, natural de Lagoaça, Freixo de Espada à Cinta, mas brigantino, como se considerava, e sempre transmontano de alma e coração, ter-me-á deixado esse gene que me faz arrepiar a pele sempre que ouço ou leio coisas como “alavancar” a economia, “agilizar” a acção, confundir “a moral” com “o moral” e outros mimos linguísticos com que a comunicação social de hoje, tanto a oral como a escrita (não obstante os correctores ortográficos que hoje equipam a grande maioria dos computadores e processadores de texto – e creio que o “Magalhães também ), nos vem brindando.
Acredito que uma língua, e para mais sendo viva como a nossa é, terá, por definição, necessidade de crescer, de melhorar, de se ataviar com roupagem nova (tanto mais que acabámos de chegar à Europa!) mas, como tudo na vida, deverá fazê-lo dentro de certos limites e com bem alicerçadas razões, tendo sempre em consideração a natureza das próprias raízes não vá a planta crescer, doente ou deformada, como me parece que estará a acontecer pelo que já não sei se tal mutação ficará na história ou na estória!
Virá talvez a propósito recordar o novíssimo acordo ortográfico onde a predominância do brasileirismo é tão evidente e tão empurrada, casa adentro, pelas telenovelas que nos preenchem o quotidiano que não sei se algum professor de português terá mais coragem de apontar como errado ao seu aluno que, querendo descrever como o criminoso foi preso pela polícia, escreva como terá ele sido pego, isto do mesmo modo que a maioria dos programas informáticos costumam conter a seguinte ressalva “português do Brasil.” nenhuma menção fazendo ao “português de Portugal.” – (Julgava o Bill Gates um pouquinho mais culto!...)
Concluiria dizendo que será caso para pasmarmos porque, pela primeira vez na história do planeta (e tema, talvez, para um futuro Nobel de Física) que a água do rio estará, algures, correndo da foz para a nascente…
Frequentemente, logo pela manhã e antes de dar início ao meu trabalho com o General, a sua ordenança vinha ao meu gabinete entregar-me uma pasta castanha, de couro macio e fechada à chave, a qual continha a papelada que ele produzira nas suas costumada sessões nocturnas de trabalho – que duravam até cerca das 3 horas da manhã, como depois vim a saber –e que eu estava autorizado a revisar, apensando aos textos os comentários que, porventura, algum deles me sugerisse.
Um dia, estando a redigir uma pequena nota sobre um assunto que já não recordo, entrou no meu gabinete o meu chefe director e bom amigo, Major Alves Soares que, não resistindo a uma humana pontinha de curiosidade, se debruçou um pouco sobre a minha mesa, o suficiente para, se o quisesse, poder ler o que eu escrevia no momento.
Instintivamente cruzei os braços sobre o texto e ocultei-lho o que fez com que ele, sem uma palavra, seguisse de imediato para o seu próprio gabinete.
Sei que fiz o que devia mas o incidente doeu-me na consciência durante todo aquele dia e hoje, quando o relembro, ainda me pesa um pouco…
Já referi aqui ontem o meu relacionamento com o então General António de Spínola e como decorreu, por mero acaso, o início desse relacionamento que a muitos outros episódios veio a dar lugar os quais, tal como então prometi, a seu tempo aqui irei referir certo, como estou de que alguns, irão soar com algum estrondo em certos ouvidos menos aptos a certos decibéis.
Hoje – e tal como intitulei este meu post – referirei apenas aquela sibilina pergunta que, no decurso de um brevíssimo intervalo numa das várias reuniões de trabalho que, pela manhã, passei a ter com o General, ele, subitamente, me fez:
- Que pensa você do Ultramar?
Um pouco surpreendido pela pergunta, não só pelo seu teor mas, sobretudo, porque nada do que estávamos a tratar a faria sequer prever, confesso que hesitei um pouco ao responder-lhe. Todavia, como nunca fui muito lento a responder nem dado a temperos nas respostas que devesse dar na hora em que a elas devesse responder, disse-lhe o que, de há muito e muitas vezes, a mim mesmo já tinha respondido.
- Meu General, relativamente ao Ultramar e às nossas províncias ultramarinas penso que, tal como os filhos não precisam de autorização paterna para ascenderem à maioridade, quer os pais queiram ou não conceder-lha já que é a própria lei que lhas dá a partir dos 21 anos, assim também as províncias do ultramar deverão ter acesso à auto-determinação e à independência independentemente da nossa vontade em lha conceder ou não, restando apenas saber se ao fim de 21 anos, 21 dezenas de anos ou mesmo de 21 séculos… A nossa “habilidade” estará na forma como as tenhamos educado para que, em chegada essa hora, continuarem a ouvir os nossos conselhos, que serão os conselhos da mãe-pátria, e, seguindo-os ou não, continuarem a dispensar-nos o melhor do seu carinho e acolhimento filiais…
Após alguns breves momentos de reflexão, creio que o ouvi dizer como que falando consigo mesmo:
- Sim, sim… será isso…
Talvez já nessa altura estivesse a escrever as suas notas para o “Portugal e o Futuro”.
Mais velho do que eu catorze anos, ele não sabia mas era o meu herói.
Era médico e, sobretudo, era do “contra”, “status quo” muito em voga por esse tempo quando, de quando em vez, me mandava as suas farpas quando passei pela GNR.
Casado com uma ilustríssima ribatejana, de seu nome Maria Manuel mas a quem todos tratávamos por Mané, de quem teve quatro filhos e que tantas saudades nos deixou a todos quando, sem que nada o fizesse prever e escassos dias após a partida do marido, ela mesma se finou, com ele se passou um episódio curioso e bem definidor do seu carácter e que acho oportuno recordar aqui e, talvez – quem sabe? - relembrá-lo aos seus filhos
Na qualidade de representante de seu sogro, o ex-Ministro da Justiça de Salazar, Manuel Rodrigues, ilustre mestre de direito, compareceu meu primo a um jantar promovido em sua honra.
A dada altura e por ocasião dos brindes, um dos presentes, ilustre conviva e membro do governo de então, levantando-se, propôs um brinde à saúde do velho professor coimbrão que tanto teimou em presidir aos destinos do País. Toda a mesa se levantou de taça na mão excepto esse meu primo que, de pé e sem taça, e para espanto generalizado, quando interrogado sobre se ouvira em honra de quem era proposto o brinde, respondeu serenamente que sim, que ouvira, mas que não costumava beber em honra de quem não perfilhava as opiniões políticas e que muito estranhava que aquele jantar, promovido em honra de seu sogro, houvesse sofrido uma tão grande transformação pois, se o soubera antes, não teria acedido ao convite que lhe fora feito…
Não será muito difícil de imaginar o sepulcral silencio que se seguiu a tais palavras, ignorando eu se o proposto e pretendido brinde terá mesmo chegado a verificar-se. O que sei é que, semanas depois, esse meu primo recebia um convite formal para integrar a equipa governamental como Secretário de Estado da Saúde, convite esse que, como desde logo se previa, agradecidamente recusou.
Era assim o meu primo Vasco Riobom, formado em letras e em medicina, a de quem bem me recordo de ver, na sua casa da Foz do Douro, estudante ainda, tentando arrancar algum som melodioso de um enorme violoncelo que não havia forma de ceder aos seus caprichos musicais!
Um abraço, Vasco, que em breve eu me irei a ver-te…
Foi sem contar que me tornei uma espécie de assessor do Marechal António de Spínola.
Corria o ano de 1967 ou 68, se não erro, quando fui designado para comandar interinamente a Companhia de Comando e Serviços do Comando Geral da GNR onde, na extinta Repartição de Justiça, vinha exercendo, como adjunto, a minha actividade de "curandeiro jurídico" ao analisar, sem estar licenciado, processos de corpo de delito ou de meras averiguações, formular relatórios e dar pareceres além de elaborar algumas minutas de despachos a proferir pelo General Comandante-Geral sobre assuntos do foro jurídico e em que a Guarda ou o seu pessoal estivessem envolvidos.
Por força do exercício desse breve e interino comando veio-me ter às mãos um extenso documento elaborado pelo então Brigadeiro António de Spínola, 2º Comandante-Geral, que culminava com uma normativa constante de 14 artigos e que fora igualmente distribuida a todos os comandantes de Unidades e Subunidades independentes para, num determinado prazo, sobre ela darem a sua opinião.
Como era meu hábito e sempre fiz, estudei aprofundadamente o assunto que me era apresentado e, para meu próprio espanto, dei comigo a discordar de 13 dos 14 artigos propostos para análise pelo que, no parecer que seguidamente formulei, dei conta dessa discordância, de fundo nalguns casos e de mera redacção noutros e que corrigi.
Porque era Natal e dispunha dos velhos 5 dias de licença da alínea a) – só passíveis de gozar se não houvesse prejuízo para o serviço – entregue, dentro do prazo, o parecer na Quarta Repartição e obtida a licença, abalei para o Porto, com minha mulher e os nossos três filhos, para passarmos o Natal em família dado que somos todos oriundos do Norte.
No dia 26, porém, uma ordenança de moto do Batalhão 4 deslocava-se a minha casa para me entregar um telegrama urgente que, sem aduzir razões, me mandava regressar a Lisboa a tempo de comparecer, pelas 9 horas da manhã seguinte, a uma reunião que o nosso Brigadeiro tinha convocado e para a qual mandara comparecer todos os comandos do País.
Num telefonema, entretanto feito para Lisboa para o meu velho amigo Major Marques, o chefe da Quarta Repartição (Operações) onde entregara o parecer, dizia-me ele: - “Estás tramado pá!... Toda a gente concordou com o nosso Brigadeiro e só tu discordaste!... Por isso ele marcou esta reunião…”.
Calcular-se-á facilmente como foi com o coração apertado que, deixando a minha gente no Porto, me meti no carro e regressei à capital pela velhíssima estrada nacional nº 1 e com as quatro horas e tal de condução que tinha pela frente!
Às 9 horas do dia seguinte, pontualmente, estando todos os convocados, coronéis, tenentes-coronéis, majores e capitães – só eu era tenente, na sala de reuniões anexa ao gabinete do Brigadeiro, este entrou e, tirando o seu monóculo que substituía pelos pequenos óculos que usava quando trabalhava, cumprimentou a todos os presentes e, indo directo ao assunto, disse mais ou menos isto: - “Agradeço a vossa presença e já sabem, por certo, qual o motivo deste reunião… Devo acrescentar, entretanto, que o único trabalho que iremos analisar é o que me foi apresentado pelo tenente Moreno…” – e olhou na minha direcção, o que me tornou ainda mais pequeno de pequeno que me sentia ao fundo da enorme mesa onde só havia patentes muito superiores à minha!
Interpelando-me então directamente, perguntou: - “Tem consigo uma cópia do trabalho que apresentou?...” Perante a minha resposta afirmativa, logo iniciou, através da pessoa do coronel Ângelo Ferrari, o Chefe do Estado-Maior, a distribuição por todos os presentes de fotocópias do texto que eu escrevera após o que deu início aos trabalhos que se traduziram, afinal, na análise, letra por letra, palavra por palavra, contexto por contexto, de quanto eu estudara e escrevera.
Esta reunião, interrompida ao fim dessa tarde e retomada na manhã seguinte, só viria a terminar ao fim do segundo dia de trabalhos com a aprovação, na íntegra, de doze dos treze artigos por mim propostos, sendo que, quanto a um deles, não havendo sido rejeitado e muito menos contestado, foi levantada a dúvida de algum conflito que pudesse haver com a lei civil pelo que foi cometida a uma restrita comissão, da qual também fiz parte, e para mais tarde, um mais aprofundado estudo sobre o assunto em causa.
E foi assim que me tornei quase assessor do Marechal Spínola que, enquanto vivo, sempre fez o favor de me honrar com a sua amizade e confiança e com o qual sinto hoje obrigação de vir aqui relatar e relembrar alguns outros factos que até hoje entendi dever manter em silêncio mas que me decidi a revelar já que melhor ajudarão a compreender a sua extraordinária e prestigiada figura de militar, de português e de verdadeiro patriota.
Paz e glória à sua alma e que me perdoe se me considerar indiscreto muito embora sempre tenha sabido que não fui, não sou nem nunca serei um “yes man” e que sempre soube ser firme nas minhas convicções.
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