Sexta-feira, 5 de Outubro de 2012

O Prof. Doutor António Borges (II)

 

 

(Continuação)

Entretanto o Povo continuava alegremente amontoado nas ruas gritando, encantado, os “slogans” que lhe ensinavam e assistindo, ufano, às vermelhas sessões de esclarecimento que se multiplicavam. Felizmente que não foi a tiro que a crise teve o seu mais do que previsível epílogo mas sim com a digna renúncia do Homem que até aí “salvara” o Pais e que teve o bom senso de evitar o que provavelmente teria sido uma sangrenta guerra civil à portuguesa.

Mas daí que tivessemos outro mal, talvez este bem maior.Tivemos de sofrer até hoje o peso de uma Constituição marxista-leninista, avançadíssima, dizia-se (e ainda se continua a dizer em certos e bem conhecidos círculos), mas totalmente utópica como o tempo entretanto decorrido já teve a oportunidade de no-lo demonstrar e que nada tem a ver com o Povo português, com a sua índole, com o seu temperamento e com o seu verdadeiro querer.

A fixação de um salário mínimo para quem trabalha é uma medida digna e justa que veio por côbro à voracidade de uns quantos que, dizendo-se empresários, se recusavam e recusam ainda a ver que o maior capital das suas empresas é o que o pessoal que empregam representa e que as faz mover. Mas o injusto, e, mais do que injusto, vexatório, é que, à sombra dos que trabalhavam – e no duro! – outros haja que pouco ou nada fazem e passam o seu tempo laboral em “plenários” e sessões de esclarecimento dizendo e ouvindo babozeiras (as que lhes ensinam e impingem), sem nada produzirem e só perturbando os que produzem mas recebendo ao fim de cada mês o mesmíssimo salário tudo em nome da pseudo-equidade ditada pelos preceitos constitucionais vigentes e que tão gravemente “contaminam” outras leis que ao trabalho dizem respeitar.

E tudo isto se passa sem que os patrões tenham a oportunidade de, com oportunos e justíssimos chutos no trazeiro, porem com dono quem assim perturba o bom e salutar desempenho laboral já que a tal se opõe a avançadíssima Constituição que até hoje temos vindo a gramar e que os menos clarividentes se recusam a alterar em tempo útil!

É, pois aqui, que retomaremos o raciocínio que nos levou, como acima dissemos, a concordar e a apoiar o Professor António Borges. A medida era não só inteligente como até oportuníssima: - tratava-se de reduzir “de facto” os salários – incomportáveis para o estado em que se encontra a nossa economia face à concorrência externa e que a “obsoleta e anti-patriótica Constituição" que temos não permite alterar suficientemente nas leis de trabalho permanecendo, assim, o trigo misturado com o joio por vontade de obtusos partidos que se recusam a alterá-la! e, simultâneamente, a conceder aos empresários mais destemidos e menos oportunistas algum estímulo que os encorajassem a avançar.

Todavia não nos poderemos esquecer daqueles muitos empresários que, tendo clamado a sua condenação à medida, são os primeiros a explorar os seus trabalhadores, constantemente reclamando dos valores dos salários que lhes pagam e dos mercados que não adquirem os seus produtos, continuando, mesmo assim, a comprar, para si e para as suas mulheres, filhos e, nalguns casos amantes, carros topo de gama, veículos “todo-o-terreno”, ridículos que se tornam até para o uso urbano que lhes dão, ao mesmo tempo que se esquecem de pagar subsídios de férias e de natal e cultivam o hábito de pagarem aos seus fornecedores a cento e oitenta dias as mercadorias que vendem a pronto nos seus estabelecimentos e lojas!

E é, por certo, esta escória social de empresários, aquela que se diz agora ofendida por quem já já nada mais tem a provar, porque já o provou e demonstrou no duro e competitivo mundo “intelectual e cultural” de âmbito internacional, tudo quanto sobre estes assuntos teria a demonstrar…

Será que Portugal vai assim a algum lugar ou será mesmo que outros teráo de ser os métodos para o conduzir?

Nunca me poderei esquecer das sábias palavras de um velho amigo meu que dizia: - “Todo o rebanho precisa de um pastor. O que varia é o comprimento da vara... Para uns basta a batuta de um maestro e outros só lá vão com um cajado "bem ferrado" na ponta...!"

A Propósito: - ainda me recordo de um empresário a quem eu perguntava porque fazia 100 quilómetros para ir tomar um café (ia e vinha de Guimarães ao Porto) e ele, então dono de uma bela “máquina” italiana, frequentemente me respondia encolhendo os ombros: - “Ora, não me preocupo com isso porque enquanto a roca vai e vem são cinco tostões que me caiem no bolso!”…


 

publicado por Júlio Moreno às 22:39
link | comentar | ver comentários (1) | favorito

O Prof. Doutor António Borges (I)

 

Será que sou do contra? Penso que não. Deixo apenas que os meus neurónios trabalhem livremente e, com isenção e independência, façam o seu trabalho. É apenas isto o que eu faço, bem ao contrário de muitos que os vão contrariando e baralhando apenas porque lhes convém ou porque, coitados!, são constantemente atraiçoados por eles, atrofiados, e não enxergam o que a evidência quotidiana se encarrega de lhes demonstrar!

As declarações do professor escandalizaram a generalidade do País a começar pelos habituais políticos da ribalta e a terminar naqueles que se presumia virem a ser beneficiados! 

A mim não.

O que o País não está, infelizmente, habituado é a ter pela frente quem lhe fale claro, directamente e sem as subtis subtilezas (passe a redundância) dos ilustres políticos da nossa praça. Isso é um facto. Lá por fora talvez se passe o mesmo só que não tanto e de forma menos desbocada, descarada e, porventura, menos noticiada.

Mas, para que se possa entender o que digo, impõe-se-me fazer um prévio esclarecimento. Ei-lo que se segue:

Tal como já profetizava Júlio César no Senado, e muitas vezes aqui o tenho referido, de há muito que o País vivia alegremente muito acima das suas reais possibilidades e completamente alheado do que seria, de facto, a sua saúde financeira!

A Banca distribuía dinheiro a rodos – como de costume, sempre mais a uns do que a outros! – e raro era o cidadão que não se aventurava a ter a sua própria casa e um ou dois carros, sendo inúmeros os de grander luxo. Durante os largos meses que se seguiram ao 25 de Abril de 1974 não foi preciso agitar a malta. Esta já se encontrava suficientemente agitada e o País, já sem as mordaças de que se queixava o ex-Presidente Soares e que só o 25 de Novembro veio temperar um pouco, dedicava-se a esbanjar o que a Europa lhe mandava, atropelando a agricultura e as pescas e selvaticamente tratando o ambiente e as terras que passaram a ter um novo tipo de cultura: a do tijolo!

Toda a criancinha tinha um "Magalhães" (melhor seria que se tivesse chamado “Sócrates”!) mas os doutores e os engenheiros não sabiam a tabuada!

Assim e recuando um pouco mais no tempo, passada a euforia dos primeiros meses, terá sido a partir dos finais de 1974, princípios de 1975, que alguns dos mais conscientes se começaram a dar conta de que a revolução tomava o freio nos dentes e de que as execuções das FP25 começavam de facto a surgir sendo, pelo que tudo indicava, o herói do 25 de Abril um dos seus chefes a par de outros facínoras bem conhecidos!

Mas, mesmo assim, poderei dar de barato que até aí se pudesse ter vivido eufóricamente a “miragem” de uma heróica, genuina e pacífica revolução nacional.

Heroica e pacífica porque tinha derrubado o regime quando, afinal, o que os senhores capitães queriam – (mas nem todos, já que entre esses alguns havia, em muito menor número, que souberam bem como aproveitar-se dos mais incautos, aqueles mesmos que, já antes, e por não estarem ainda preparados,tinham feito abortar o malogrado golpe das Caldas denunciando-o à Pide).

Mas o que a grande maioria dos heróicos “capitães” pretendiam era tão somente defender o “tacho”, que o mesmo será dizer o elitismo da sua “classe” para o que teriam de obter a “cabeça” do ministro Andrde e Silva, sucessor do “meia-nau”, como era apelidado o ministro do Exército Sá Viana Rebelo que tivera a ousadia de colocar os capitães milicianos mobilizados para o Ultramar na escala lado a lado com os capitães do Quadro Permanente o que a estes parecia uma afronta e um sacrilégio, afronta essa que já não sentiam quando eram aqueles os primeiros a serem nomeados para as missões mais perigosas das guerras na Guiné, em Angola ou em Moçambique!

(Acrescente-se, a talho de foice, que entre os heróicos capitães de Abril que pertenciam ao Q.P. alguns haveria que nem sequer sabiam ler uma carta topográfica militar e muito menos orientarem-se por ela com o auxílio de uma bússula pelo que terão chegado a andar perdidos no mato com as suas tropas!… – isto a fazer fé no que então diziam as más línguas, que eu cá não vi!

Porém, à esmagadora maioria dos revolucionários nunca lhes tinha passado pela cabeça o que, de facto e no fim daquele dia, lhes veio a acontecer. Ficaram com um País nos braços sem saberem o que fazer-lhe. A árvore estava, de facto podre e os seus frutos caíam já ao chão e por isso caíu também o regime. Porém, para tratarem do País recém-nascido e com o qual nunca haviam contado, tiveram de ir buscar apressadamente a casa o General Spínola para que cuidasse dele…

Porém, como nunca há bela sem senão, foi a partir do “camarada Vasco” que a situação se degradou. A desvairada figura do coronel, provavelmente bem intencionado no seu utópico idealismo comunista, já então e na própria fonte pelas ruas da amargura, mas cuja teimosia raiava a loucura rapidamente se incompatibilizou com o Presidente que chegou a confidenciar-me, e não só a mim como a quem comigo estava nessa reunião de 16 de Setembro, que “isto só lá iria a tiro”!

Esta frase, de que “isto só lá iria a tiro” (tenho, como disse, testemunhos do que falo) e uma vez que a teimosia do coronel se apoiava na “força” de outro desvairado e multifacetado “capitão-herói” e nas massas populares já então enquadradas por quem viera do frio, causou-me profunda impressão e, porque não dizê-lo, o receio de uma trágica guerra civil pelo que e para o facto alertei então alguns amigos próximos que eu sabia influentes junto do General.

(Continua)

 

publicado por Júlio Moreno às 22:24
link | comentar | favorito

.mais sobre mim

.pesquisar

 

.Setembro 2013

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6
7

8
9
10
11
12
13
14

15
16
17
18
19
20
21

22
23
24
25
26
27
28

29
30


.posts recentes

. Mais uma vez mão amiga me...

. Um tristíssimo exemplo de...

. A greve como arma polític...

. A crise, o Congresso do P...

. O PRESIDENTE CAVACO SILVA

. Democracia à portuguesa

. ANTÓNIO JOSÉ SEGURO

. Cheguei a uma conclusão

. A grande contradição

. O jornalismo e a notícia ...

.arquivos

. Setembro 2013

. Junho 2013

. Abril 2013

. Março 2013

. Fevereiro 2013

. Janeiro 2013

. Dezembro 2012

. Novembro 2012

. Outubro 2012

. Setembro 2012

. Agosto 2012

. Julho 2012

. Junho 2012

. Maio 2012

. Abril 2012

. Março 2012

. Fevereiro 2012

. Dezembro 2011

. Novembro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

. Abril 2010

. Fevereiro 2010

. Janeiro 2010

. Dezembro 2009

. Novembro 2009

. Outubro 2009

. Agosto 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

. Maio 2009

. Abril 2009

. Março 2009

. Fevereiro 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Agosto 2008

. Maio 2008

. Fevereiro 2008

. Janeiro 2008

. Dezembro 2007

. Novembro 2007

. Outubro 2007

. Junho 2007

. Fevereiro 2007

. Janeiro 2007

. Dezembro 2006

. Novembro 2006

. Outubro 2006

. Setembro 2006

. Agosto 2006

. Julho 2006

. Junho 2006

. Maio 2006

. Abril 2006

. Março 2006

. Fevereiro 2006

. Janeiro 2006

. Novembro 2005

. Outubro 2005

. Setembro 2005

. Agosto 2005

. Julho 2005

. Junho 2005

. Maio 2005

.favorito

. Passos Coelho: A mentira ...

. Oásis

.links

.participar

. participe neste blog

blogs SAPO

.subscrever feeds

Em destaque no SAPO Blogs
pub