Sexta-feira, 14 de Novembro de 2008

Hoje sinto-me tão ridículo!...

Imaginem o que me veio à lembrança, pela calada da noite passada, quando, em supremo esforço pelo frio que havia no meu quarto, depois de me ter levantado para beber um copo de chá amornado no micro-ondas, tentava, regressado à cama, conciliar desesperadamente o sono que, teimosamente, permanecia afastado e sem dar mostras de querer aproximar-se de mim como, felizmente e por fim, veio a acontecer aí uma hora depois!


É que me lembrei-me de uma partida que, em tempos que já lá vão, preguei a um grupo de uns seis ou sete americanos que, numa cálida noite de verão lisboeta, pelas dez, dez e meia da noite, deambulavam pelo Largo do Carmo, junto do Comando-Geral da GNR, onde eu então prestava serviço, e foram naturalmente atraídos pelos belíssimos acordes da Banda da Guarda que tocava no interior dos claustros.


Havia nessa noite um concerto de gala dado pela Banda nas ruínas do Carmo, artísticamente iluminadas para o evento e para o qual haviam sido convidadas altíssimas individualidades nacionais e estrangeiras, alguns Ministros e Embaixadores e outros altos dignitários do Corpo Diplomático. Recordo ainda que, fazendo tenção de, nessa noite, rumar ao Estoril, em visita a uns primos meus que havia já alguns tempos não visitava, foi com surpresa e grande indignação que recebi a nomeação de última hora, feita pelo então Chefe do Estado-Maior ao ser designado, juntamente com outro camarada meu, como oficial de protocolo e destinado, portanto, a receber as Excelências que se dignassem aceder ao convite feito, o que correspondia, exactamente, às funções então exercidas pelos ”arrumadores” dos cinemas e teatros da capital que levavam os espectadores aos respectivos lugares a troco de alguns magros trocos, para eles sempre bem-vindos.


Assim, depois de conduzir aos respectivos lugares algumas Excelências, entre as quais recordo os Ministros do Interior, de Estado e dos Negócios Estrangeiros, além de alguns Embaixadores e outros altos dignatários de embaixadas acreditadas em Lisboa, eis que começa o concerto – uma obra prima de execução, diga-se, pois a Banda da GNR mais não é do que uma verdadeira orquestra sinfónica e das melhores que existem no País e o local prestava-se enormemente para o efeito.


 Havia, no entanto, muitos lugares ainda vagos quando uma das sentinelas de serviço no exterior me veio avisar de que um grupo de senhores estrangeiros se encontrava à porta dos claustros, deliciados pela música e pelo sortilégio do ambiente que se apresentava ante os seus olhos, perguntando se lhes seria permitida a entrada.


 Descurando eventuais obrigações que contrariassem tal decisão, respondi-lhe que sim, que lhes franqueasse a entrada pelo que o grupo, em ligeiríssimo traje de passeio, de “shorts” e roupas leves das senhoras, - o que contrastava flagrantemente com os trajes de cerimónia com que os convidados estavam vestidos -  e carregado de máquinas fotográficas irrompeu na minha direcção agradecendo efusivamente a minha atenção.


Daí ao cochichar de perguntas e ao ciciar de respostas da minha parte no muito mau ingles em que então me expressava, - e que ainda hoje não melhorou muito - foi um curtíssimo lapso de tempo sendo inúmeras as perguntas que logo me fizeram e que me deram a oportunidade de ficar a saber que dois deles eram professores universitários algures numa cidadezinha de um qualquer remoto estado americano.


E a pergunta fatal surgiu por fim: - porque é que estas ruínas tão lindas não têm tecto?


E a minha resposta logo veio, inspirada e com o sabor à vingança que a nomeação de que fora alvo me exigia: - Ai não sabem? É que os tectos tinham frescos lindíssimos de Miguel Ângelo e o Napoleão, aquando da terceira invasão que nos fez, roubou-os e levou-os para França!...


Depois dos ” Ohs!” habituais de espanto imediatamente algumas notas foram rabiscadas nos pequeninos livros de apontamentos que traziam pelo que estou em crer que muitos americanos terão ficado a saber que o Miguel Angelo da romana Capela Sistina também pintou as abóbadas do Convento do Carmo e que o Napoleão as levou consigo para França para onde se retirou depois de escorraçado na batalha de Aljubarrota!...


Fora a minha vingança. E, acreditem ou não, adormeci sorrindo e, um tanto saloiamente satisfeito pelo sábio esclarecimento prestado à descendência do Tio Sam, contribuindo desta forma para o avanço da cultura universal e quiçá forjando os Bushes que por lá pululam...

publicado por Júlio Moreno às 19:51
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