Sexta-feira, 14 de Novembro de 2008

Declínio...

Que tudo à nossa volta, e de um modo geral, está em declínio, demoronando, disso não tenho a menor dúvida. A dúvida que persiste no meu espírito, inquieto e simultâneamente ansioso, é a de como será e quando será?


É o planeta que vai esmorecendo e não tardará – a menos que um milagre colectivo de consciencialização universal venha a ser encontrado – não tardará, dizia, a extinguir-se, apagando-se, queira Deus que não apocalípticamente mas sim com lentidão, qual vela bruxuleante que, depois de ténues e ligeiros lampejos de uma estranha e final luminosidade, se acaba por fim, deixando no ar um estreito fio de fumo azulado e um forte odor a que já nos habituámos a chamar de “cheiro a mortos”!...


Sim, o planeta está a morrer e nós, alegremente, vamos continuando sem ver aquilo com que a evidência diariamente nos presenteia e os estranhíssimos e hoje já recorrentes fenómenos “naturais” no-lo vão paulatinamente demonstrando: - degelo ártico, aumento e deslocação dos ciclones tropicais, terríveis terramotos, tsunamis devastadores, o terrível buraco do ozono, o aumento gradual da temperatura e tantos, tantos mais sinais que fastidioso se tornaria, quando não mesmo redundante, o vir aqui e agora enumerá-los.


O ser humano está, como é natural e se previa, em constante evolução, só que e infelizmente prevalecendo em caminhar no sentido contrário ao que seria de supor ser o seu natural destino.


Fazem-se intrigas políticas e guerras, proliferam os genocidas e os genocídios, aumenta o número dos ricos e dos poderosos que os criam e fomentam e, em paralelo e num crescendo já sem históricos precedentes, assustadoramente cresce o número dos que, impotentes, vão empobrecendo e se deixando espezinhar, sendo daqueles inocentes e inconscientes vítimas...


A corrupção está na ordem do dia. A comunicação social rejubila com ela porque, qual abutre como qualquer outro ser necrófago é dela que se vai alimentando e com ela prosperando.


A falsidade, a mentira, a sabujisse e a suja habilidade política, a par de intelectualíssimas e liminosíssimas ideias dos que febrilmente trepidam em redor dos escândalos ou das interpretações não interpretáveis com que as promovem e delas se alimentam, são hoje atributos considerados notáveis entre os amantes que tais artes cultivam e proliferam dia a dia, mais parecendo que o “pseudo-social” em que vivemos acorrentados cada vez mais dignifica quem os pratica ou por eles se deixa “inocentemente” envolver dando, depois, lugar a “frutos” seus que, lançados em terreno tão biológicamente favorável, logo vão germinando e proliferando a esmo e sem qualquer controlo ou antiodoto que os destruam!


Este pessimismo que neste momento me invade tem, como tudo o que, sendo factual e real , acontece nesta vida, uma causa e uma razão de ser. Neste momento, e para mim, essa causa e essa razão é o ser humano,no seu todo e, dentro desse mesmo todo, particularmente a mulher, no seu duplo conceito do belo anatómico e biológico e o aviltamento a que ambos, homem e mulher, desvairadamente vêm sendo submetidos renegando princípios éticos e morais que, deixando de ser mais os alicerces de uma sólida estrutura, em muito irão contribuir para que ela mesma caia um dia sem qualquer possibilidade de recuperação.


A história nos refere que o mesmo se terá passado já em Roma onde o Império se desmoronou em "bacanais imensos e insanos" e onde os timoratos incautos da verdade se deixavam matar ou, cansados de uma luta inglória, encontravam no suicídio o lenitivo supremo para os males de espírito que os atormentavam.


Mas, regressando à mulher, objecto deste meu pensamento de hoje - de facto, longe do misticismo que desde sempre a envolveu e dela faz o ser único que Deus, na Sua intervenção divina, deu como natural ao mundo para que este pudesse, de facto,” crescer e multiplicar-se”, a mulher e o seu corpo – melhor dizendo, as formas deste, que desde sempre foram o néctar que atrairam as buliçosas e laboriosas abelhas que à sua volta acorreram, ávidas do seu pólen de vida e de promessa de criação – essa mesma mulher e esse mesmo corpo são hoje mercantilizados e postos à venda num “quem dá mais” tão desonesto quanto torpe já que destroi o que de mais puro deveria existir e cultivar-se, o “amor”, para dar lugar ao “sexo”, prazer efémero e depravado e em que as rugas da vida não permitem conservar eternamente a juventude física, bem cedo as fazendo esfumar-se e voltar a transformar-se no “nada” em que nasceram e foram criadas.


E porque não reage a mulher a tal situação que tanto a avilta? Porque o não evita o homem que, verdadeiramente, seja digno de o ser? Porque tanto a um como a outro se opõem, como valores mais altos que logo se “alevantam” os efémeros bens materiais do “hoje” que, em sendo deste jeito cultivados, nunca nos permitirão assistir ao alvorecer do sereno e promissor amanhã que tão pródigamente os auto-eleitos que nos conduzem nesta sinuosa trilha da vida em que o próprio planeta parece finalmente estar a tomar parte com um certo sentido de revolta!


Será o fim? Admito-o quase como certo pois hoje os tiros já se sucedem na rua tão naturalmente como os pingos de chuva em dias de borrasca sem que se saiba quem atingem e se molhados ou feridos de morte eles ficam! Justiça é cada vez mais palavra vã assim como hombridade e carácter. Vivemos numa cultura de intriga e maledicência que, cedo ou tarde, nos acabará por consumir a menos que alguém, suficientemente lúcido e forte interrompa o ciclo e nos reconduza ao velho e ancestral caminho da fraternidade autêntica e não panfletária de grupelhos mais ou menos organizados que prontamente fugiriam ao menor grito de revolta de um Povo desnorteado, é certo, mas que acredito seja afinal quem mais ordena “dentro de ti ó cidade”...


E não sou comunista! Imaginem o que sentiria e diria se o fosse! 

publicado por Júlio Moreno às 01:08
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