Quinta-feira, 21 de Janeiro de 2010
Catástrofes, como a que ensombrou o mundo e ocorreu agora no Haiti, fazem-me pensar em como é realmente efémera a existência humana e quão vazia e sem qualquer sentido ela deverá ser para os que não foram bafejados pela sorte de crerem verdadeiramente no Deus que lhes dará uma nova vida para além desta e da morte que para todos nós lhe sobrevirá um dia!
Com efeito, assistimos a um desfilar de notícias, de narrativas e, sobretudo, de números que, quanto a mim, longe de nos sensibilizarem verdadeiramente para a dimensão real do acontecido, nos transmitem uma estranha sensação de vazio emocional no qual as vidas humanas assumem apenas uma dimensão estatística, a dimensão de números e nada mais.
Cem mil mortos ou duzentos mil passam a ser, para a generalidade do público, a mesmíssima coisa mas a eles se agarram, com a avidez própria dos abutres no deserto das emoções e dos sentimentos, os media e os seus fautores, lutando desesperadamente por serem os primeiros, já que não poderão ser os únicos, a dar as últimas
E no rescaldo da tragédia, que denodadamente prolongam, vão surgindo algumas notícias como a de duas vidas retiradas dos escombros ou uma sexagenária encontrada viva após seis dias de soterrada!
Poderei estar errado, muito errado até admito-o mas revolta-me o saber e ver que catástrofes como esta que ocorreu recentemente no Haiti possam mobilizar tão intensa e rapidamente tão vastos meios de socorro internacionais e os media do mundo inteiro e aquelas que quotidianamente ocorrem em todo o mundo no anonimato da sua pequeníssima dimensão pelo que não constituem sequer notícia! não despertem na comunidade internacional as mesmas reacções e capacidade de intervenção de que nestas ocasiões dão provas.
Realmente, os milhões de desabrigados (não confundir com desalojados, o que seria quase um despautério!... ) os milhões de desempregados, os milhões de doentes, os milhões de carentes de toda a ordem, onde tem primazia a fome, tudo chagas imensas que parecem infectar este belo mundo de brilhantes oradores políticos que descaradamente mentem aos povos que os sustentam, de bem sucedidos magnates da luxúria, os quais se designam hoje por gestores, de celebridades de coisa nenhuma devo referir que, neste campo, haverá excepções a merecer especial destaque e exclusão nada disto parece incomodar a humanidade e os velozes e omnipresentes meios de comunicação social (como hoje se designam) que, perante tais factos, permanecem indolentemente indiferentes, aceitando-os como fatalmente imutáveis e fazendo irremediavelmente parte da moralmente tão degradada condição humana
Daí a interrogação que me ponho: - qual a diferença entre o que aconteceu agora no Haiti e o que diariamente ocorre na Somália, no Senegal, na Índia, no Paquistão, no Afeganistão, na Palestina e em tantos, tantos outros pontos do globo e que, para além dos atentados suicidas e dos mais recentes actos de pirataria marítima, tão pouco parecem incomodar os influentes senhores do mundo em que, não fora a crença que me anima e pulsa no meu peito, bem pouca ou nenhuma vontade teria de viver!
E a diferença será somente a da oportunidade no mercado das notícias que, relativamente a umas renderá e a outras não
Só isso.