Segunda-feira, 29 de Janeiro de 2007
E eu seria um deles. Ontem à noite, porém, tive a oportunidade de assistir à entrevista que a euro-deputada Dra. Ana Gomes deu na TV e por ela conclui do quão errado estaria acerca das minhas pré-concebidas noções de oportunismo político e do querer-se protagonismo a qualquer preço, como julguei ser o caso, igual, afinal, a tantos outros que diariamente vejo nos copiosos e contraditórios noticiários com que a nossa imprensa, falada, escrita e televisiva no mimoseia diariamente.
Ouvi-a e ouvi, como não podia deixar de ser, as perguntas que, a meu ver, por vezes um tanto capciosamente lhe eram feitas, e as respostas prontas, abertas, francas e lineares que a todas elas iam sendo dadas pela sua mente esclarecida.
A Dra. Ana Gomes revelou-se-me, assim, como uma mulher não só fulgurantemente inteligente como tenaz e capaz, profunda conhecedora dos assuntos em que se envolve (ou em que outros ou a própria força das circunstâncias a envolvem), digna, por certo, de ser melhor compreendida pelos milhares de portugueses que das suas posições vão discordando ou duvidando, como era o meu caso até ontem.
Sou socialista, não militante porque nunca me veria enredado nas teias de uma política com cujas veredas as mais das vezes não concordo e, por via disso, parecendo-me até com um homem de direita quando não mesmo de extrema-direita os extremos tocam-se por vezes!
Neto de avós políticos e que, por via disso, pagaram com breves dias na prisão daqueles tempos a sua devoção à causa que abraçavam - a república (também eu reatei a tradição familiar ao ser detido, arbitrariamente, e sem acusação nem julgamento, mantido preso por 254 dias, de 23 de Abril de 1975 a 23 de Dezembro do mesmo ano, o célebre verão quente de 75 e de tão triste memória!) - devo confessar que sei, porque desde menino o senti, o que é democracia, assim como sei que esta não se institui por decreto nem se ensina nas escolas sem que primeiro nos corra nas veias, herdada que terá de ser com os genes dos nossos ancestrais.
Sou socialista e não sucialista como a tantos vejo ser e desavergonhadamente comportarem-se quer na política quer nos mais simples actos da sua vida privada.
E sou um socialista que vivia em permanente conflito com a Dra. Ana Gomes por quanto sobre ela me era subliminarmente transmitido pelas notícias e comentários que até mim chegavam!
Ontem, porém, ao ver aquela mulher que, com tanta clareza e objectividade de pensamento e com tanta convicção pessoal assim se expressava, e ao melhor lhe conhecer o invejável curriculum e a extrema simplicidade dos seus desejos pessoais a par da tenacidade, diria mesmo que ferocidade, com que se dispôs e dispõe a defender aquilo em que mais acredita uma justiça verdadeira e realmente igualitária não pude deixar de me penitenciar pelo tempo em que perdi e em que, com tanto e gratuito empenho, contra ela estive, do que hoje aqui me penitencio ao render-lhe as minhas mais sinceras e sentidas homenagens pessoais e cívicas.
Não me conhece a Dra. Ana Gomes nem eu tenho o privilégio de a conhecer mas pode crer que, de ora em diante, tem em mim um dilecto admirador e um atento seguidor dos passos que sei continuará a dar em prol deste tão confuso como tão dilacerado país. Bem haja, minha senhora, e possam muitas mulheres que se dizem portuguesas e políticas, saber seguir-lhe tão magnífico exemplo.
Bem haja, pois, por quanto já fez e pelo muito mais que sei ainda fará!