Embora percorrendo caminhos diferentes no que toca ao raciocínio, pontos havia onde estes se cruzavam e calcorreavam juntos parte dos percursos que os levaram à imortalidade. E o grande mérito do conhecimento da cultura grega é, para mim, o de ter tornado universalmente reconhecida uma verdade: - a de que todo o saber está no homem, na sua razão e no seu discernimento sobre as coisas que os seus sentidos lhe vão permitindo conhecer proporcionando-lhe, assim, a análise das suas causas e a comparação dos seus efeitos.
Na antiga Grécia, segundo creio, em torno de uma mente formava-se uma escola. Os discípulos sentavam-se em redor do mestre, escutavam-no e seriam por este incentivados a questioná-lo pondo, assim, à prova o raciocínio individual que, terminando sempre por aflorar o desconhecido, tanto perturbava e intrigava o colectivo. Haveria então uma outra dimensão do tempo.
E porque havia tempo, nascia a investigação. A investigação científico-filosófica, beneficamente pluri-angular, hoje asfixiada, imposta que é por programas de ensino pré-concebidos e estratificados que mais não fazem do que atrofiar a imensa capacidade humana de produzir o novo e decifrar o enigmático. Espartilhou-se o pensamento em nome do progresso e de uma pretensa alfabetização.
A cultura de hoje tal como a vejo pretende transmitir ao homem de uma forma compacta e necessariamente imperfeita o somatório dos conhecimentos básicos de uma qualquer actividade denominada profissão a que este deseja dedicar-se, melhor dito, a que tem de dedicar-se sob pena de não sobreviver no seio do parasitismo social criado por esse instrumento do mal que é o dinheiro!
O homem de hoje, pretensamente livre mas, de facto, impedido de o ser, é obrigado a assimilar o pensamento de outros homens não lhe restando mais do que tornar-se escravo de uma cultura dada como certa, que lhe não pertence e para a qual a sua concordância ou discordância nada importarão. Júris de outros homens, pragmáticos doutores, aferirão, por estandardizadas tabelas o grau dos seus conhecimentos e, em função disso, lhe passarão um diploma que o autorizará a exercer a acção ou o mister para que foi tornado autómato.
E quantos homens conseguem fugir e fogem hoje deste ciclo? Meia dúzia apenas, talvez nem tanto! E aos que fogem, o epíteto de louco será o mais brando com que a conspurcada e parasitária sociedade dos nossos dias saberá tratá-los. Na verdade e pelo caminho que trilhamos, onde a ficção de ontem já é uma tristíssima realidade de hoje, não me surpreenderá que o homem venha a ser mero instrumento sobresselente de uma máquina competindo-lhe apenas oleá-la porque ela pensará e decidirá por si.
Mas cuidado! A juventude dá já sinais de intolerância perante a pseudo cultura que estamos querendo impor-lhe. Os extraordinários movimentos juvenis a que assistimos violência nos subúrbios, concertos que arrastam multidões e atroam os ares, criminalidade em bandos, desportos radicais e culto por quanto seja violento - são, quanto a mim, prova evidente de que algo está errado e terá de mudar já que a verdadeira cultura não poderá ser assim espartilhada e servida ao povo, escolarmente atrofiado, em ingleses giga bites. Primeiro há que voltar à escola, àquela escola de aldeia, isolada, em que o professor, qual segunda mãe, quase senta ao colo os seus alunos e os ensina, com tempo e com diálogo. Assim aconteceu na Grécia antiga onde o homem indubitavelmente terá aprendido a pensar.
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