Sábado, 31 de Outubro de 2009

A Fé e o medo

Não sei se o que se passa comigo se passará também com os outros. Gostaria bem de o saber, talvez porque isso seria capaz de me tranquilizar um pouco e robustecer um pouco mais este sentimento profundo que, lenta mas progressivamente – talvez em correlação com o tempo de vida que inexoravelmente se me vai esgotando! - mais e mais vai cavando fundo dentro de mim…

Refiro-me à Fé. À Fé em Deus. Aquele Ser inefável, invisível e omnipresente através dos tempos na mente e consciência da esmagadora maioria dos humanos pouco importando o nome que Lhe seja dado, como tantas vezes tenho dito, se Cristo, se Alá, se Buda…

Creio Nele e não admito a existência dos ateus que, pura e simplesmente, dizem não acreditar já que, assim e a meu ver, serão a suprema negação filosófica de si mesmos pois, ao não acreditarem, é nisso mesmo que acreditam!...

Dialéctica, jogo de palavras? Pode ser. Mas o que sei é que desde tempos imemoriais, desde que o homem é homem, que os verbos “crer” e “acreditar” sempre fizeram parte integrante do seu léxico e do seu conhecimento empírico mais profundo e menos público porque, e na esmagadora maioria dos casos, só dialogando, secretamente e em surdina, com o seu próprio eu, são levados a discutir e admitir o problema.

Vejamos, nesta minha pobre e fraca análise, o que se passou e passa nos povos primitivos e apelidados hoje de atrasados – tribos amazónicas, algumas tribos negras de África os velhos índios que ainda há bem poucos anos povoavam a América do Norte, os esquimós – quase todos eles sem conhecimento da existência uns dos outros e que, apenas através de um “estado de necessidade espiritual”, todos buscaram no extra-terreno a razão de ser da sua existência sobre a terra e a tremenda incógnita que a todos eles perturbou ao quererem desvendar o seu fim último, a sua morada bem como a dos seus ancestrais, em síntese: - o como, o porquê e o para quê vieram e estão neste mundo!

Assim nasceu no homem a necessidade de, através do transcendental, explicar o que era, é e continuará a ser, para si, o inexplicável. Daí as crenças, as feitiçarias, os bruxedos e, finalmente, as religiões que, por conduzirem o pensamento e as emoções através de um fio lógico, tal como o fio eléctrico hoje conduz a electricidade, que não vemos, mas cujos efeitos todos nós sentimos, fizesse sentido nos seus espíritos e congregasse, à sua volta, os seus vários seguidores. E recusada que foi a divindade ao homem – só temporariamente mantida, e pela força, nos remotos e brevíssimos tempos dos faraós e dos imperadores romanos e orientais – surgiram as religiões, as mais díspares e, por vezes, quase antagónicas como necessidade imprescindível de alimento para o espírito, como para o corpo são aqueles frutos que a terra tão generosamente produz.

Daí porque, e para mim, uma imprescindível necessidade espiritual, da qual, mesmo que alguns o não reconheçam, ou, teimosamente, o não queiram reconhecer, a religiosidade e a crença e, a partir destas, a Fé, sejam uma constante e uma realidade imperecível em todos os espíritos que existem sobre a terra, os quais, ao renegá-la, outra coisa não fazem do que a afirmarem inconscientemente…

Por tudo isto que acabo de dizer e de escrever e que, ao relê-lo, tanto lamento por não ter outras palavras com as quais melhor o tivesse podido explicitar – nem a minha capacidade daria para tanto! – que me atreva a afirmar a não existência de ateus porque estes mesmos se noutra coisa não acreditarem, acreditarão no seu ateísmo o que, sendo paradoxal e, até certo ponto, mesmo lamentável, serve para provar que ateus o não serão…

Eu acredito. Tenho Fé e sou crente, - católico embora não exibicionista praticante! – e não porque o seja apenas por uma manifestação consciente da minha inclinação por um dos lados do que a humanidade supõe seja a verdade da vida, mas por uma necessidade imperiosa do meu próprio ser que, desde sempre, sentiu e teve de tentar explicar, pela razão, o que por via dela e da sua lógica dedutiva se me afigurava inexplicável nunca me refugiando na situação algo cómoda e algo acrítica de dizer que não acredito apenas porque não acredito e… ponto.

E porque creio, me confesso crente e faço as minhas preces – quando as faço por delas sentir necessidade e algum alívio para as angústias que, de tempos a tempos, me vão assaltando – que surja em mim este novo receio, este novo medo: - será que serei sincero ao proceder assim ou será que estou apenas tentando como que “comprar” a Deus o meu sossego e a tranquilidade de que tanto careço? Em que devo eu, pobre mortal acreditar? Naquilo que repetidamente me vou afirmando, de que será sem mácula que faço as minhas preces ou, pelo contrário, que ao fazê-las estou a ofender a Deus que em mim confia ao conceder-me a benesse da minha própria existência?

Esta a minha dúvida persistente. Este o meu medo!
publicado por Júlio Moreno às 11:30
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