Quinta-feira, 22 de Abril de 2010
De há anos a esta parte que me causa perplexidade esta coisa do modo como se elegem os deputados, ditos os representantes do povo, de um povo que, no meu entender nem os conhece nem eles conhecem!
Leigo sou neste assunto, mas, pelo que deduzo, creio bem que, para o "nascimento" de um deputado, as coisas se passarão da seguinte forma:
- primeiro, haverá que analisar cuidadosamente a lista dos membros do partido (acho que isso de terem ou não as quotas em dia não deve interessar muito pois é coisa que, em caso de necessidade, logo se acertará), procurando, dentre os "superiormente" reconhecidos como indigitáveis que nela constarem, aqueles que, pelos seus especiais atributos políticos já comprovados ou a comprovar mais se adequem às necessidades políticas do partido que não do povo definidas que rão estas por uma cúpula de elementos proeminentes, e arbitradas, em situações de grave dissonância, pela figura "supra-supra-clarividente" do respectivo presidente da comissão política ou do secretário-geral, consoante o pendor direitista ou esquerdista do partido em causa, e que mereçam uma primeira selecção;
- segundo, feita a primeira listagem, haverá que proceder a uma primeira filtragem analisando, mais à lupa, as possíveis vulnerabilidades políticas de cada um dos elementos pré-selecionados, após o que se procederá à respectiva decantação, isto é, à remoção, o mais completa possível, de todas e quaisquer impuresas ou aderências do passado que, mais tarde e no decurso dos já previsíveis debates em que sejam chamados a intervir, possam acarretar prejuízos dificilmente sanáveis em termos de acção ou de ideologia política e hábitos de humilde submissão a uma vontade superior, isto é, à disciplina partidária ditada pelos chefes, tudo de forma a reduzir o maior número possível de vantagens políticas aos respectivos e futuros adversários;
- terceiro, seguir-se-á, naturalmente, o primeiro contacto pessoal da "comissão" com o elemento assim pré-seleccionado em ordem a obter a sua aquiescência para uma sua, ainda eventual, inclusão nas listas de deputados (leia-se representantes do povo) a elaborar pela dita comissão política do partido em causa (Note-se que, até aqui, o povo, esse de quem se iriam tornar representantes, não terá tido qualquer interferência no complexo e, como se vê, bem pouco claro processo de selecção.
Surgirão, assim, grosso modo as listas dos deputados que, mais tarde, o Zé Povinho vai eleger com a aposição de uma cruzinha no quadradinho que segue, ou antecede, o logótipo do partido em causa, tudo sem que, na esmagadora maioria dos casos, saiba quem são, donde são, o que fizeram e o que irão fazer, os seus legítimos representantes, aqueles que serão supostos de tudo conhecer acerca dos seus anseios, das suas necessidades e da sua real e genuína vontade!
É a palhaçada democrática em todo o seu esplendor e magnificência!
Depois
depois surgem os casos estranhos, diria mesmo que paradoxais: - representará o povo de Lisboa uma cidadã parisiense, conhecida pelos seus dotes artísticos no mundo do cinema erudito, à qual o povo que, como vimos, a não escolheu, se verá obrigado a pagar as passagens aéreas semanais para Paris já que aí tem a sua residência e a lei manda que assim seja! Curioso, não? E por aí se vão mais 6.000 euros por mês a juntar aos muitos mais milhares dos milhões que constituem o peso específico do nosso Estado, esse peso que hoje ascende a 50% da nossa economia tal como o referia no meu post de ontem e ao qual acrescentarei que, quanto a isto, não haverá PEC que nos valha!
Mais palavras? Para quê? Apenas a transcrição da notícia do IOL de hoje que deu lugar a todo este meu arrasoado:
"Inês de Medeiros satisfeita com fim «da campanha de enxovalhos»
"A deputada do PS, residente em Paris, admite não conhecer ainda o parecer jurídico que indica que as suas viagens a casa devem ser pagas pelo Parlamento - Por: Redacção /AMS | 21-04-2010 20: 02
"Inês de Medeiros manifestou-se esta quarta-feira satisfeita por ter sido resolvida a polémica à volta do pagamento das suas viagens a Paris, sublinhando que sempre deixou claro que residia em França. - Em declarações aos jornalistas no Parlamento, a deputada do PS disse não conhecer ainda o parecer jurídico nem o do presidente da Assembleia da República que determinam o pagamento das viagens que efectua semanalmente a Paris, apesar de ter sido eleita pelo círculo de Lisboa. - «A minha satisfação é isto estar resolvido e acabar com esta campanha de enxovalhos, de humilhações e de informação pouco rigorosa. Houve muitas coisas que foram ditas e publicadas que eram falsas», afirmou Inês de Medeiros. - Uma das falsidades que, segundo a deputada, foram publicadas é que, no seu dossiê de candidatura, teria indicado Lisboa como residência oficial. -«Isso é pura e simplesmente falso, o dossiê de candidatura é claro, a residência que lá está é França, não há qualquer possibilidade de traficar dossiês de candidatura», garantiu. - Para Inês de Medeiros, ficou claro com a decisão hoje tomada que se trata de «uma questão administrativa», porque «os deputados não pedem tratamentos especiais, não podem, isto não é um emprego, é um mandato, tudo é regido por lei, não é por vontade própria», sublinhou.
"«Se um deputado mudar para ilha do Pacífico o Parlamento paga?»
"O Conselho de Administração da Assembleia da República aprovou hoje, com os votos favoráveis do PS e a abstenção do CDS-PP, o pagamento de ajudas de custo e uma viagem semanal para Paris à deputada socialista. - O despacho que o presidente da Assembleia da República enviou ao Conselho de Administração, e que tinha em conta um parecer jurídico, também acrescentava que esta decisão não altera o regimento, é «única» e resulta de «uma lacuna». Parlamento vai mesmo pagar viagens a Inês de Medeiros À reunião, que serviu para discutir o despacho do presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, faltaram os representantes do PCP e do PEV. PSD e BE votaram contra. O PCP abstém-se O PCP adiantou hoje que se teria abstido sobre o pagamento das viagens de Inês de Medeiros, alegando que o que foi decidido foi equiparar a deputada do PS a qualquer deputado residente nas regiões autónomas. - Em declarações aos jornalistas no Parlamento, o deputado comunista José Soeiro salientou que a sua presença na reunião do Conselho de Administração «não implicaria uma alteração da resolução» e que se teria abstido. - José Soeiro justificou a ausência da reunião daquele órgão, a que pertence, por se encontrar numa iniciativa com uma delegação parlamentar de Cabo Verde. - «Nós tínhamos dúvidas sobre esta situação, é uma lacuna que existe na lei e interviemos sempre no sentido de esclarecer a situação, aquilo que se veio a verificar é que estamos perante uma lacuna do legislador (...) tratando-se de uma lacuna, os serviços apontaram que devia ser considerado para a senhora deputada o mesmo que seria para qualquer deputado em Portugal», afirmou o deputado. - A decisão do Conselho de Administração não tem carácter vinculativo.""